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Câmbio, eleição e crises nos países vizinhos dificultam exportação e acesso a crédito
Incertezas ameaçam pequenos
PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE NEGÓCIOS E EMPREGOS
Uma atmosfera pesada ronda o empresariado nacional, composta por incertezas de natureza econômico-financeira (escassez de crédito e oscilação cambial), política (indefinição nas eleições) e
internacional (crises na Argentina
e no Uruguai que contribuem para a diminuição da credibilidade
comercial do Brasil no exterior).
"Essa quase histeria não é neutra para a economia real. Quanto
maior a desvalorização de nossa
moeda, maior a pressão inflacionária. A renda diminui, a demanda também, afetando todos os setores", diz Odair Abate, 44, economista-chefe do Lloyds TSB.
Como nenhum investidor quer
arriscar em economias instáveis,
o acesso a linhas de crédito no exterior se torna quase inexistente.
"O financiamento aos exportadores está secando. Isso porque a
maior parte dos recursos é destinada à especulação, e não à produção", observa o professor de
economia da PUC-SP (Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo) Paulo Sandroni, 62.
"Tínhamos aproximadamente
US$ 10,5 bilhões de crédito em linhas internacionais. Atualmente,
esse valor não chega a US$ 6 bilhões", calcula Claudio Luiz Miquelin, 46, diretor da área de crédito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A solução passa a ser o crédito
interno. "Grandes empresas que
não conseguiram rolar dívidas
nem obter financiamento vêm
para o mercado interno e esgotam
as linhas de crédito", afirma William Eid Junior, 45, coordenador
do Centro de Estudos em Finanças da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas, ligada à
Fundação Getúlio Vargas).
Comércio exterior
A crise afeta também o comércio com outros países. Para exportar, as empresas precisam obter crédito tanto para fazer o planejamento e se estruturar como
para apresentar sua marca aos
clientes potenciais e conseguir suprir a possível demanda.
Darlan Dórea Santos, 59, diretor
de desenvolvimento regional e de
micro, pequenas e médias empresas do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social), diz que o banco está estudando como viabilizar mais linhas de financiamento ao exportador. "Estamos agilizando o
atendimento e vamos tentar obter
mais recursos com o Ministério
do Desenvolvimento para suprir
as necessidades mais imediatas."
Claudio Emanuel de Menezes,
50, presidente da Disoft, do segmento de tecnologia, estabeleceu
algumas parcerias internacionais
há dois anos com a Argentina.
"Recebemos capital da Fiesp e exportávamos soluções para os argentinos. Hoje também temos
clientes do México e da Noruega."
Mas a economia argentina entrou em crise, e Menezes se viu
obrigado a renegociar. "Recebemos menos do que prevíamos.
Sentimos o impacto e não vamos
fechar parcerias por enquanto."
"É preciso tomar cuidado com a
taxa de câmbio que será fechada,
levando em conta que a alta do
dólar não deve durar", alerta Dorothéa Werneck, gerente-especial
da Apex (Agência de Promoção de Exportações).
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