|
Próximo Texto | Índice
RESPONSABILIDADE SOCIAL À PROVA
Segundo pesquisa, responsabilidade social não seduz clientes, mas é praticada em nome do bem-estar
Ação social se massifica nas empresas
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Valeu a intenção. No ano em
que o termo responsabilidade social foi badalado como nunca no
meio empresarial, o país foi contagiado pela necessidade de maior
entrosamento entre empresas e
causas comunitárias. Por consciência ou por modismo, multiplicaram-se ações corporativas de
cunho social, focando o bem-estar -mas sem cativar a clientela.
Segundo balanço histórico do
Instituto Ethos, menos consumidores se importam, hoje, com o
fato de uma marca investir ou não
em responsabilidade social. Em
2000, 24% dos brasileiros apontavam a responsabilidade social da
empresa como determinante no
momento da compra. Em 2001, o
número caiu para 16% e se manteve no mesmo patamar em 2002
-quando 69% dos entrevistados
declararam não avaliar ações sociais na hora de comprar.
Apesar disso, o investimento
privado no setor cresceu. Combater a fome e colaborar com a redução da pobreza e com a preservação do ambiente são alguns
exemplos de ações sociais corporativas adotadas em 2003. "Foi
um ano de massificação do conceito", avalia Paulo Itacarambi,
50, diretor do Instituto Ethos.
No plano concreto, no entanto,
objetivos como "conquistar di-
ferencial no mercado" e "agregar
valor à marca" não deram sinais
sólidos de efetivação. "Na prática,
o consumidor brasileiro ainda
não diferencia quem é socialmente responsável de quem não é",
observa Esther Schattan, 40, sócia-proprietária da fábrica de móveis Ornare. "Ele compra do mesmo jeito", afirma a empresária.
A empresa conduz projeto que
doa aparas de madeira a instituições que fazem trabalhos de marcenaria, como a Apae (Associação
de Pais e Amigos de Excepcionais). A ação consome R$ 20 mil
mensais. "Nem faço as contas direito para não concluir que não
vale a pena. Penso nos beneficiados e vejo que vale", diz Schattan.
Bem comum
Um estudo da Fiesp/Ciesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), que monitorou
as "práticas solidárias" de 543
indústrias de diferentes portes
entre agosto e setembro de 2002,
aponta que a "promoção do bem
comum" é o fator que mais motiva investimentos sociais.
De acordo com o levantamento,
a intenção de colaborar para a
construção de uma sociedade melhor supera a crença de que esse é
um meio de fortalecer o negócio.
Em 88% das grandes empresas,
77% das médias e 77% das pequenas, as ações sociais são consideradas altamente importantes para
a promoção do bem comum.
Já como estratégia de negócios,
as medidas são percebidas como
de alta importância por 71% das
grandes, 67% das médias e 65%
das pequenas firmas.
Os números "surpreenderam" a
gerente de ação social da Fiesp,
Anne Louette. "Pensávamos que
o empresariado estava motivado
por uma visão pragmática de obtenção de resultados. Descobrimos que prevalece a visão emancipatória de querer colaborar com
a melhoria social", comenta.
Juliana Junqueira, 31, editora do
portal iG Cidadania, lançado neste ano pelo provedor iG para dar
visibilidade ao trabalho de organizações não-governamentais,
concorda. "Aumentar o faturamento não é a meta", afirma.
Próximo Texto: Planos de longo prazo ganham força Índice
|