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Assistencialismo e doações isoladas vêm sendo substituídos gradativamente por projetos contínuos
Planos de longo prazo ganham força
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de experimentarem uma
multiplicação, as práticas de responsabilidade social no Brasil
também sofreram modificações
ao longo de 2003. Uma delas foi a
substituição gradativa das ações
pontuais -como campanhas de
arrecadação, doações e outras iniciativas isoladas- por projetos
com objetivos no longo prazo.
"As chamadas ações corretivas
entraram em baixa neste ano. As
reflexões se voltaram para ações
sustentáveis, com retorno efetivo", observa Lilian Mammana,
diretora da Concebe (consultoria
de responsabilidade social).
Na opinião da especialista, as
empresas começaram a perceber
que o assistencialismo é um "tapa-buracos". "Ele disfarça o problema, que acaba voltando. Mas a
solidariedade é, de fato, uma porta larga na geração de parcerias."
Para Paulo Itacarambi, diretor
do Instituto Ethos, o fato de o governo Lula ter introduzido a questão social como um balizador da
economia nacional gerou uma
convergência nesse sentido.
"Aguçou-se a percepção de que
não se faz sucesso numa sociedade sem sucesso. Ficou mais claro
que a desigualdade é um obstáculo ao desenvolvimento de qualquer empresa", esclarece.
Trabalho contínuo
Na Movicarga, firma paulista do
setor de transporte de volumes,
que já arrecadava agasalhos para
doações no inverno e deu um cheque de R$ 50 mil para o Fome Zero, "atirar para todos os lados"
não será a prática em 2004.
"A movimentação em torno das
causas sociais nos tocou, não queremos mais fazer ações pontuais.
Estamos definindo um projeto de
apoio à terceira idade", revela a
gerente de marketing, Christiane
Cordaro Seegerer, 26.
A idéia é investir inicialmente
R$ 400 mil no projeto, que focará
nos familiares dos funcionários e
terá como objetivo oferecer palestras, oficinas e encontros regulares de apoio, além de orientação
jurídica e psicológica ao público.
A terceira idade também foi o
alvo do último projeto de responsabilidade social lançado pela Arno em 2003. Ao longo dos últimos
três anos, a fabricante de eletrodomésticos substituiu sucessivamente a realização de campanhas
isoladas -como converter parte
dos lucros obtidos com vendas
em donativos entregues a famílias
carentes do Nordeste- por dois
projetos contínuos.
Um deles ensina crianças da rede pública de ensino a fazer a utilização total de frutas e de verduras,
aproveitando, por exemplo, as
cascas em receitas de sucos e de
geléias. O outro transmite aos
idosos técnicas de fabricação de
pães. "É muito mais interessante
que um episódio de marketing focando em vendas", observa Mauro Almeida, 51, gerente de responsabilidade social da marca.
No bairro da Mooca, em São
Paulo, a Sin, uma pequena fábrica
de componentes de prótese dentária, abriu as portas neste ano
com uma abordagem diferenciada de gestão de recursos humanos: priorizar a contratação de
portadores de deficiência e de jovens em busca do primeiro emprego. "É uma preocupação social, mas não é caridade; o critério
para conquistar a vaga é o desempenho", diz o sócio-proprietário,
Luís Antonio Pugliesa.
(TD)
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