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SELEÇÃO DE FRANQUIAS
Dinâmica de grupo, análise de currículo e testes psicológicos reprovam quem não tem perfil ideal
Franquia recruta com técnica de RH
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O franchising foi buscar inspiração nas seleções de emprego e
adotou técnicas típicas de recursos humanos para escolher franqueados. Análise de currículo, entrevista, teste psicológico e até dinâmica de grupo fazem agora
parte dos processo seletivos.
Mesmo sobrevivendo a todas
essas etapas, o candidato ainda
corre o risco de participar do treinamento de franqueados e, no final, ser eliminado. "É mais difícil
do que vestibular", diz o consultor André Giglio, da Francap, que
revela já ter usado testes de desenhos e até grafologia em seleções.
Nas franquias de vestuário Hering Store e PUC, a seleção dura
de três a quatro meses e inclui
curso dado pela ABF (Associação
Brasileira de Franchising). Já no
restaurante Café Cancún, quem
não tem curso superior é eliminado na primeira fase do processo.
Para ser aprovado pela Shell, o
interessado em abrir um posto de
gasolina precisa enfrentar uma
"entrevista cruzada". Em uma dinâmica de grupo, cada um assume o papel da empresa e faz perguntas a outros candidatos. A
idéia é a de que, ao perguntar, cada um revela muito de si.
De acordo com franqueadores e
consultores especializados, aumentou a oferta de interessados
em franquias, mas está mais difícil vender, já que é grande o número de candidatos sem capital e
sem perfil para o negócio. A dificuldade estaria em expandir de
maneira responsável, com parceiros bem escolhidos. O movimento, aliado à intenção de profissionalizar a escolha, explicaria os recrutamentos mais rigorosos.
A doceria Amor aos Pedaços,
por exemplo, que diz receber 15
cadastros de interessados por dia,
abriu em 2003 somente duas unidades franqueadas. "Está mais difícil fechar negócios", declara a
gerente de expansão da empresa,
Ana Cristina Centrone. Segundo
ela, na rede, a seleção dura de dois
a três meses, e a gerente de RH
participa sempre da decisão final.
Dados da consultoria Rizzo
Franchise mostram que de cada
800 interessados apenas 1 está
dentro do perfil desejado. "Aumentando o universo de recrutados, melhora-se a qualidade da
seleção. É puro RH", diz o consultor Marcus Rizzo. A internet seria
a principal fonte de cadastros.
Perfil
Entre as características mais valorizadas pelas redes, está a disponibilidade para cuidar do negócio. A ex-gerente de treinamento
de informática Eliane Falcade
Consorte, 42, por exemplo, descobriu há dois meses -bem no
meio de um longo processo de seleção- que estava grávida do segundo filho. Foi orientada pelos
selecionadores a desistir.
"Eu estava na fase de fazer contatos com franqueados. Já tinha
feito quatro reuniões, assistido a
palestras e preenchido fichas",
diz. A promessa é a de retomar a
seleção após o parto. "Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo."
Já Lucia Pimentel, 50, designer
de interiores, vendeu há dez dias a
franquia de lavanderia adquirida
há um ano e meio. Diz que não teve prejuízos, mas que a experiência foi suficiente para descobrir
que seu "negócio" não é ser franqueada. "Não tenho reclamações
do franqueador, mas acho que
não tenho o perfil. Gosto de criar e
de fazer minhas coisas. Ter uma
franquia é como ter um patrão."
Para ela, a seleção poderia ter
identificado essas características,
mas, caso fosse reprovada, provavelmente procuraria outra franquia. "Cismei que tinha de ser
uma franquia. Quando ponho algo na cabeça, não tem jeito."
Em geral, as redes usam os testes e as dinâmicas inclusive para
eliminar candidatos "muito" empreendedores: seriam pessoas
mais resistentes a seguir padrões.
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