São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2011

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Novo avião desafia o legado soviético


A triste imagem de um fabricante de jatos russo


Por ANDREW E. KRAMER

MOSCOU - As companhias aéreas são um setor cauteloso, que demora a confiar a um novo fabricante de aviões encomendas de bilhões de dólares e as vidas de passageiros. A brasileira Embraer, fabricante de jatos regionais, levou duas décadas para se tornar uma grande fornecedora da indústria.
Por isso a Sukhoi, uma empresa russa mais conhecida por fabricar jatos de caça supersônicos, não teve uma decolagem auspiciosa. Quando ela entregou um dos primeiros de seus altamente promovidos Superjets de 100 lugares para a Aeroflot, em junho, uma peça do equipamento de segurança imediatamente quebrou, levando a Sukhoi a estacionar o avião.
Apesar de o aparelho ter sido consertado e estar voando de novo, o lapso de tempo mostra como é difícil o caminho que a Sukhoi enfrenta para convencer as companhias aéreas ocidentais a comprar aviões de uma empresa estatal russa. A indústria de aviação da Rússia há muito tempo é afetada por problemas de segurança, panes e quedas mortais, tornando-a virtualmente incapaz de vender aviões fora da antiga União Soviética, Irã, Cuba e partes da África.
"Historicamente, os aviões russos têm uma imagem que levará tempo para melhorar", disse Les Weal, um analista da consultoria Ascend, de Londres.
"A Sukhoi pode estar entusiasmada com seu avião", ele disse. "Mas não tenho certeza de que isso vá significar muitas encomendas das principais companhias aéreas."
Um ano atrás, a rede de televisão russa NTV relatou que 70 engenheiros da fábrica que faz o Superjet tinham diplomas de engenharia falsos, subornando uma faculdade técnica local; a Sukhoi disse que esses empregados não estavam diretamente envolvidos na montagem dos aviões.
Os altos custos tiveram um período duro ultimamente, o que tornou ainda mais difíceis as vendas. Em 2006, cerca de 400 pessoas morreram em acidentes com jatos Tupolev na Rússia e na Ucrânia. Em junho passado, um Tu-134 caiu ao se aproximar de um aeroporto, matando a maioria das 52 pessoas a bordo.
Mas a Sukhoi tem altas expectativas para o Superjet 100, a primeira aeronave civil totalmente projetada na Rússia desde o fim da URSS. O preço de tabela do avião de uma só asa é US$ 31,7 milhões, cerca de um terço mais barato que jatos comparáveis da Embraer ou da Bombardier, do Canadá, diz a Sukhoi.
A empresa, que está negociando para vender aviões para as companhias ocidentais, espera vender 800 Superjets nos próximos 20 anos. Além de dois aviões entregues para a Aeroflot, a Sukhoi forneceu um para a companhia nacional da Armênia, Armavia. Também concordou em fornecer 15 para a segunda linha aérea do México, Interjet. A Sukhoi tem ao todo 176 encomendas de Superjets.
Mais que enfatizar as origem siberianas do avião, a Sukhoi o comercializa apontando para seus parceiros franceses e italianos, que trabalharam em joint-venture para desenhar os motores e fornecer a aviônica (equipamentos eletrônicos).
A Alenia Aeronautica, uma divisão da gigante de engenharia italiana Finmeccanica, é proprietária de cerca de 25% do programa do Superjet e está ajudando a vender o avião na Europa, Américas do Norte e do Sul, Japão e Austrália através de uma subsidiária em Veneza, a SuperJet International.
O avião está autorizado a voar nos antigos países soviéticos e aguarda a certificação para a União Europeia. A Sukhoi disse que vai solicitar a certificação da Administração Federal de Aviação dos EUA depois que tiver um cliente americano.
"Vamos enfrentar o mesmo problema que os fabricantes de carros japoneses enfrentaram no início", disse Giacomo Perfetto, diretor da SuperJet International. "Quando eles virem o avião voando, vão mudar de ideia."


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