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OMBUDSMAN
Notas de urna
RENATA LO PRETE
Passei boa parte da quinta-feira ao telefone. Do outro
lado vinham protestos contra a
reportagem que apresentou os
perfis e as propostas de 25 dos
1.087 candidatos à Câmara Municipal de São Paulo.
Os descontentes eram, em sua
maioria, postulantes ao cargo
de vereador não mencionados
na lista. Mostraram-se ainda
mais decepcionados quando eu
disse que, embora compreendesse a insatisfação dos excluídos, não condenava a iniciativa
da Folha.
Explico. Ao longo da campanha, testemunhei a demanda
do leitor por essa orientação,
fruto tanto do desconhecimento
que costuma cercar a eleição da
Câmara quanto dos escândalos
associados à atual legislatura.
Nem tudo o que o leitor quer
pode ou deve ser feito, mas no
caso a solicitação me parece
procedente.
Não havia como retratar todos os nomes inscritos na disputa, nem era esse o caráter do serviço, assumidamente seletivo.
Os critérios da escolha foram
explicitados. "Levantamento
com entidades da sociedade civil, dirigentes partidários e autores de artigos publicados na
seção "Tendências/Debates'"
conduziu a uma relação de nomes que, "na avaliação do jornal, são portadores de propostas
que merecem reflexão e debate".
Observo, no entanto, que a
operação envolve mais risco do
que sugere a "Nota da Redação" editada na página 3 de
sexta-feira, após cartas de quatro preteridos e de uma leitora
satisfeita com a reportagem.
"A Folha procurou oferecer
aos eleitores subsídios para uma
escolha consciente", disse o jornal. Certo.
"A lista não significa um atestado irrefutável de qualidade
dos nomes apresentados." Irrefutável não, mas sem dúvida
um atestado de qualidade, concedido a três dias da votação.
Hoje, pode-se cobrar do jornal
a injustiça cometida contra
candidatos igualmente qualificados -e eles por certo existem.
No futuro, se algum dos agraciados frustrar a expectativa do
eleitor, a responsabilidade será
também da Folha.
"Tucano ignorou alerta de
fraude, diz diretor." O tucano
em questão é Geraldo Alckmin.
A reportagem, publicada na segunda-feira, é exemplo de denúncia requentada às vésperas
de eleição.
O próprio texto reconheceu
que a suspeita de irregularidades em licitações para privatizar rodovias paulistas é coisa
sabida. Circula na praça desde
1998 e já foi registrada pelo jornal.
A novidade, no entender da
Folha, é que um diretor da Dersa afirmou ter feito as informações chegarem a Alckmin "por
intermédio de um conhecido comum cujo nome prefere não revelar", antes de o caso aterrissar
no Ministério Público.
No espaço destinado ao "outro
lado", o candidato a prefeito
disse não conhecer o diretor
nem se lembrar de ter sido procurado em nome dele.
Diante do telefone sem fio valorizado pelo jornal, não há como deixar de ver razão na carta
de Alckmin que o "Painel do
Leitor" trouxe dois dias depois.
"O repórter da Folha escreveu
quase uma página baseado
num diz-que-diz-que. Um diretor de uma empresa estatal, que
teria falado com um amigo, que
teria me alertado. Sem o nome
de quem disse, sem provas, sem
nada que pudesse atestar a veracidade dos fatos."
"Na base do amigo que disse
que outro amigo falou, seria
possível levantar suspeita sobre
a honra e a honestidade de
qualquer pessoa."
Leitores observaram que, na
"Nota da Redação" destinada a
sustentar o material publicado,
a Folha não respondeu a esse
questionamento.
Autor da reportagem, o jornalista Mario Cesar Carvalho discorda das críticas.
"Quem diz ter alertado Alckmin da suspeita de fraude não é
uma fonte qualquer. É um diretor da Dersa que antecipou os
vencedores de cinco licitações
para a privatização das principais estradas do Estado."
Mesmo sem embaraço adicional, um "diz que" tem alcance
limitado. A situação piora bastante quando "alguém diz que
alguém disse", e nem sabemos
quem é a pessoa que teria dito.
É fragilidade demais para tanto
alarde.
A Folha pratica um jornalismo crítico. Está no "Manual da
Redação". O problema é que a
aplicação desse princípio à cobertura eleitoral está longe de
ser homogênea.
Lembro de uma edição recente que relatava, lado a lado,
eventos das campanhas de Marta Suplicy, Paulo Maluf e Luiza
Erundina.
Cada frase do candidato do
PPB foi rebatida pelo repórter.
Nada de errado nisso, não fossem as reportagens sobre Marta
e Erundina um passeio para
ambas, do tipo em que o jornalista sai de cena e deixa o gravador trabalhar sozinho.
Exemplo mais contundente
surgiu na edição de quinta-feira, quando foram publicados os
perfis dos vices das cinco principais chapas. Chamava atenção
o contraste entre os textos dedicados a Hélio Bicudo e Campos
Machado.
O jornal fez visível esforço para pegar no pé do vice de Marta.
Primeiro, notando que ele "passou 28 dias da campanha fora
do Brasil" (Bicudo preside a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA).
Depois, apontando incongruência em sua declaração de
bens, acusação que ele desmontou no "Painel do Leitor" do dia
seguinte.
Na comparação, a biografia
do vice de Alckmin chegava a
ser suave. O que de mais problemático se encontrou para destacar é que o petebista se considera "filho de Jânio Quadros".
Qualquer pessoa que começou
a ler jornais antes da semana
passada sabe que existe algo estranho em uma edição que faz
graça com Campos Machado
enquanto acusa Hélio Bicudo
de mentir à Justiça Eleitoral.
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de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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