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Relato frio do caos
Florianópolis é a capital com
melhor qualidade de vida, onde
os cidadãos passam mais anos
na escola, com a menor taxa de
mortalidade infantil do Brasil.
Pessoas de alto poder aquisitivo
de várias partes têm-se mudado
para lá. Os vôos ficam lotados segundas e sextas de gente que trabalha em SP mas mora na capital catarinense por opção.
Tudo isso a Folha sabe, porque
publicou, há menos de um mês
(3/10), caderno especial com todos esses dados.
Mas o que fez o jornal quando
essa cidade, tida como paraíso
turístico, foi atingida por um
histórico blecaute desde a tarde
de quarta-feira? Bem menos que
o exigido para algo desse porte.
Chama a atenção, de início, a
falta de imagens capazes de expressar o caos que tomou conta
da cidade. A edição nacional publicou apenas fotos de vista do
alto, de operários reparando cabos e uma outra, com jeitão de
arquivo, de duas pontes ligando
ilha e continente. Na edição SP,
só a primeira e a última.
O caos se instalara desde as
primeiras horas. Postos de gasolina fecharam; afetou-se o transporte coletivo; escolas dispensaram os alunos; congestionamentos se espalharam; o maior shopping teve todas as lojas fechadas.
Faltou água. Vacinas foram recolhidas nos postos de saúde. Os
telefones celulares só falhavam.
Nas casas, as geladeiras tiveram
de ser esvaziadas. Em hotéis, lotados -há dois grandes eventos,
um esportivo e outro de negócios, no fim de semana-, houve
gente presa nos elevadores.
A Folha reservou à notícia, no
primeiro dia (quinta), menos de
meia página, com um texto apenas descritivo, quase relatorial.
No segundo dia (sexta), houve
mais espaço, relatos e depoimentos sobre casos concretos; um
quadro ilustrava como teria sido
o acidente que provocou a situação traumática.
Mesmo assim, além da ausência de fotos, nada se falou sobre
aspectos relevantes e úteis para
os leitores (inclusive de outros
Estados), como, por exemplo, a
situação do aeroporto ou dos turistas de passagem ali.
Talvez, no primeiro dia, o jornal se tenha deixado levar pelas
(sempre duvidosas) declarações
oficiais de que tudo voltaria ao
normal em poucas horas -e
não deu, equivocadamente, a
devida atenção ao tema.
Na sexta, é provável que o espaço se tenha comprimido pelo
caso da ação da Polícia Federal
contra juízes, advogados, policiais e empresários na Operação
Anaconda. Isso não justifica, porém, a ausência de ao menos
uma foto expressiva da situação
dramática nem as lacunas de
texto que apontei acima.
Seria exagero dizer que o jornal menosprezou o caos de Florianópolis -o qual persistia até
o fechamento desta coluna. Mas
ele, no mínimo, perdeu a chance
de criar uma cobertura à altura
de um evento inédito para uma
capital cuja imagem, a partir de
agora, jamais será a mesma.
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