São Paulo, domingo, 04 de março de 2001

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Fontes murmurantes

No sábado de Carnaval, a Folha informou que será "ampla" a reforma ministerial deflagrada pela queda dos dois afilhados de Antonio Carlos Magalhães.
Os termos cautelosos da reportagem ("Fernando Henrique Cardoso sinalizou que estuda fazer uma ampla reforma") não impediram o jornal de dedicar à previsão de suas fontes título no alto da página e dezenas de centímetros de texto. Também não chamou atenção que o "Painel" do mesmo dia descrevesse como "minirreforma" o que vem por aí.
Pois bem. Na sexta-feira, com menos de uma semana de intervalo, um novo título avisou que a "mudança mais ampla perde força no Planalto". "A Folha apurou que cresce a tese defendida por parte dos auxiliares do presidente de restringir as trocas aos dois ministérios." Para que dar espaço e visibilidade de notícia a um bastidor volátil que cabe perfeitamente em uma nota?
"O jornal não deve se preocupar com a micropolítica", responde o Valdo Cruz, diretor-executivo da Sucursal de Brasília. "Mas creio que não é o caso atual, que envolve uma reforma ministerial planejada em meio a uma crise em toda a base parlamentar do governo. Não bastasse isso, está em jogo a sucessão presidencial."
Ele defende as duas reportagens sob o argumento de que, "em momentos de crise, o jornal precisa apresentar ao leitor relatos que o aproximem dos bastidores".
Sem dúvida, mas cabe discutir a relevância do que é apresentado. Sempre se pode alegar que antes a tendência era uma, agora é outra, amanhã talvez volte a ser a anterior. Isso não apaga a constatação de que o leitor é enrolado com especulações desimportantes, não raro próximas da cascata.



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