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Entre amigos
Na sexta-feira passada, reportagens na Folha e no "Estado"
apresentaram os nomes das 48
canções classificadas para o Festival da Música Brasileira, promovido pela Rede Globo.
O texto da Folha destacava
que o evento buscará "derrubar
a ditadura imposta pelas rádios
e pela mídia". Entrevistado, o diretor-geral disse esperar que "o
festival seja o início de um alicerce para mudar a perspectiva
musical do país".
O "Estado" ressaltava que "o
corpo de jurados teve absoluta liberdade de trabalho, sem pressão de qualquer espécie". Os escolhidos "são nomes que o grande público ainda não conhece,
mas que têm presença e respeito
na fatia do meio musical que
trabalha com a grande tradição
qualitativa, preocupada com a
beleza da música brasileira.
Maravilhoso. No último parágrafo, o autor esclareceu que ele
e um repórter da Folha haviam
integrado o júri.
A informação, que me foi confirmada pela Redação, não constava da matéria da Folha, assinada pelo jornalista citado no
concorrente. Observei na crítica
interna que o incidente é muito
ruim para o jornal.
O "Estado", que parece não ver
impedimento em escalar um
profissional para relatar o resultado de uma seleção de que ele
participou, pelo menos teve a
transparência de revelar o conflito de interesses.
A Folha, que sempre manifestou rejeição a esse tipo de arranjo, desta vez nem mesmo deu satisfação ao leitor. Ela foi publicada ontem, na forma de um "erramos" dando conta da atuação
dupla do jornalista.
O editor tinha conhecimento
da participação do repórter, mas
a direção do jornal foi tomada
de surpresa.
A editora-executiva, Eleonora
de Lucena, vê o "erramos" como
o mínimo que poderia ser feito
diante de reportagem realizada
em tais circunstâncias e sem aviso ao leitor. Como regra, considera os dois trabalhos incompatíveis.
Não há como esperar jornalismo independente dessa dupla
jornada.
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