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OMBUDSMAN
Pesquisas, uso e abuso
MARCELO BERABA
Foi uma semana de pesquisas de intenção de voto e de
avaliação administrativa. O leitor não tem mais dúvida: estamos em período eleitoral e as
pesquisas vieram para ficar. É
bom, portanto, acautelar-se.
A Folha publicou as suas ao
longo de toda a semana. A principal foi no domingo, manchete
do jornal: "Serra lidera isolado
em São Paulo". Tinha também
uma avaliação da administração Marta Suplicy (PT), ambas
feitas pelo Datafolha.
Na segunda-feira saiu, também do Datafolha, uma avaliação do governo Alckmin
(PSDB). Na terça, todos os jornais deram as pesquisas de intenção de voto do Ibope em São
Paulo ("Ibope aponta liderança
de Serra em SP", resumiu a Folha) e no Rio ("Maia lidera no
Rio com 18 pontos de folga, diz
Ibope").
Na quarta, o Ibope teve de se
explicar. A pesquisa que fizera
entre os dias 15 e 18 de junho, paga pelo PT, dava um empate técnico entre os três principais candidatos em São Paulo: José Serra
(PSDB) com 22%, Marta Suplicy
(PT) com 21% e Paulo Maluf
(PP) com 18%. A pesquisa publicada na terça tinha sido feita entre os dias 25 e 27 de junho, dez
dias depois da primeira, foi paga
pela TV Globo e deu um resultado bem diferente: Serra já liderava com 30%, Maluf tinha 21% e
Marta, 16%.
É estranho uma mudança tão
grande em tão pouco tempo. Segundo o instituto, a grande diferença entre as duas pesquisas era
resultado da influência dos programas eleitorais no rádio e na
TV. A pesquisa do PT foi realizada depois do programa do partido, e a pesquisa da Globo, depois
das propagandas gratuitas de
Serra e Maluf.
Na quinta-feira, saiu no "Estado" a pesquisa do Instituto GPP/
InformEstado, realizada praticamente no mesmo período da
do Ibope e com resultado um
pouco diferente: Serra tinha
33,1%, Maluf, 26,8% e Marta,
15,2%. A pesquisa do Datafolha,
publicada na Folha de domingo,
também era do mesmo período
(24 e 25 de junho) e com outro
resultado para a candidata do
PT: Serra tinha 30%, Maluf,
24% e Marta, 20%.
São diferenças numéricas às
quais os institutos não dão muita importância porque consideram que estão dentro da margem de erro. A margem de erro é
determinada pelo número de
eleitores pesquisados. O Datafolha ouviu 1.083 eleitores (margem de erro de 3 pontos percentuais), o Ibope, 1.001 (margem de
3,1 pontos percentuais) e o GPP/
InformEstado, 606 (margem de
4 pontos). Além disso, explicam,
as três pesquisas têm metodologias diferentes.
A rodada de pesquisas da semana continuou. Na quarta, os
jornais publicaram o levantamento da CNI/Ibope que avaliou o governo federal. Títulos
dos diários de maior circulação:
"Aprovação de Lula cai de 34%
para 29%" (Folha); "Ibope mostra governo Lula em queda há 15
meses" ("Estado"); e "Ibope: popularidade e confiança em Lula
caem" ("Globo").
Na quinta-feira, o "Estado"
publicou, com a pesquisa de intenção de voto, a avaliação do
governo Marta. E novas discrepâncias surgiram, agora fora da
margem de erro.
O Datafolha e o GPP/InformEstado fizeram suas pesquisas,
como informei, praticamente
nas mesmas datas: 24 e 25 (Datafolha) e 26 e 27 (GPP). No Datafolha, Marta tem 29% de ótimo/bom, 37% de regular e 33%
de ruim/péssimo. No GPP, ela
tem 18,6% de ótimo/bom (dez
pontos percentuais a menos),
39,6% de regular e 41,5% de
ruim/péssimo.
É verdade que as pesquisas
não podem ser lidas como uma
verdade absoluta: são apenas
flagrantes de um determinado
momento. Mas as diferenças saltam aos olhos e incomodam.
Os institutos têm explicações
metodológicas para quase tudo,
mas há problemas que não podem ignorar. Fazer uma pesquisa logo após a realização de comerciais do partido que a está
pagando é, no mínimo, passível
de questionamento.
Para os partidos, isso deve ser
ótimo, porque passam a impressão de uma vantagem que, sabem, é artificial e não será mantida. Mas, para os institutos e,
principalmente, para os meios
de comunicação, é colocar em
jogo a credibilidade porque sobre eles pesará a suspeita legítima de manipulação.
Os jornais devem se preocupar
em abrir para os seus leitores todas as informações essenciais
para que entendam as pesquisas
e possam questioná-las.
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