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OMBUDSMAN
O controle
BERNARDO AJZENBERG
Em conversas reservadas
muita gente de peso avalia
que o país está derretendo, que
Argentina e Uruguai são vizinhos não só geográficos. Os EUA
pressionam para controlar novo
acerto com o FMI. Há no ar um
cheiro cada vez mais forte de deterioração econômica e social.
Nessa situação dramática,
poucas vezes se viu tão nitidamente exposta a importância de
uma cobertura jornalística crítica da disputa eleitoral.
Embora de modo indireto e pelo avesso, coube a Nelson Biondi,
coordenador de marketing da
campanha de José Serra (PSDB),
chamar a atenção para isso.
Conforme reportagem de
quarta na Folha (veja abaixo), a
uma "platéia" apreensiva ante o
desempenho pouco estimulante
de seu candidato nas pesquisas,
o publicitário afirmou:
"Vocês estão criticando a campanha antes de ela começar".
Avaliou, segundo o texto, que a
campanha não tem hoje o "controle da comunicação" e que "a
imagem que aparece do candidato é a que a mídia transmite".
"A partir de agosto (começo do
horário eleitoral gratuito), vamos ter o controle novamente",
disse Biondi.
Embora seu formato e a preponderância da visão marqueteira ainda precisem ser questionados, a propaganda eleitoral
gratuita é um direito, dos partidos e da sociedade.
Mas a argumentação de Biondi expõe uma disputa não declarada entre ela e a imprensa. E
ele, no fundo, tem razão.
Até aqui, a cada onda de exposição de um candidato na mídia
correspondeu uma ascensão nas
pesquisas, e a cada subida seguiram-se reportagens que, mais ou
menos, a contra-arrestavam.
Exemplo maior foi o de Roseana Sarney e sua frustrada candidatura. Mas cada candidato teve
(ainda tem) pelo menos um
"dossiê" ou "caso" a lhe pesar
nas costas.
Se o controle da comunicação
de que fala Biondi não ficou, até
aqui, totalmente na mão dos
marqueteiros, foi porque a imprensa criou algum contrapeso.
Nota dez para ela? Não necessariamente, pois boa parte dos
tais "dossiês" foi fruto, na verdade, da atualização de acusações
antigas que, por "esquecimento"
da própria imprensa, haviam ficado, em seu nascedouro, bastante circunscritas em investigação e divulgação. Novo mesmo,
até agora, quase nada.
Além disso, por mais que desta
vez, diferentemente do ocorrido
em 89, 94 e 98, proclame-se a
existência de uma isenção
maior, há muita oscilação na
"imparcialidade" e não têm sido
poucos os momentos de sufoco
declarado do pluralismo (alguns
apontados nesta coluna).
Houve atritos entre os candidatos e parte da imprensa. Pergunto, no entanto, se o ideal não
seria que eles fossem ainda
maiores e mais numerosos.
Até o momento, nada se vê sobre as eleições legislativas, num
país em que o jogo de forças no
Congresso tem papel fundamental na aplicação de qualquer
programa de governo.
Nada se vê sobre o financiamento das campanhas, enquanto os jatinhos voam à toda, publicitários e assessores faturam
como nunca e as ruas já se encontram lotadas de cartazes,
banners e faixas.
Nada se vê sobre o balanço dos
oito anos do atual e governo.
A partir do dia 20, com o horário eleitoral, o desafio será ainda
maior -e a "provocação" de
Biondi ganhará densidade.
A vigilância terá de se multiplicar diante do bombardeio
diário de publicidade. O contrapeso deverá ser simultâneo, se
não antecipado, não posterior
ou reativo.
Cresce a obrigação de desembrulhar com didatismo os pacotes obscuros vendidos na propaganda; estimular o debate de
propostas (ponto frágil da cobertura) para além da retórica; impedir que a agenda dos candidatos prevaleça em detrimento do
direito que o (e)leitor tem de obter informação esmiuçada.
O debate de hoje à noite na TV
Bandeirantes, por exemplo, é
teste, como as sabatinas com os
candidatos anunciadas pela Folha e a nova rodada de entrevistas no "Jornal Nacional".
Testes são também os episódios
imprevistos, só aparentemente
inofensivos, como o bate-boca
entre Marta Suplicy e Rosinha
Matheus após entrevista ao
"Globo" de quinta na qual a prefeita criticou (referindo-se a Patrícia Pillar, segundo o jornal, ou
a Rosinha, de acordo com nota
posterior de Marta) a exploração
das mulheres pelos maridos na
vida política. A Folha deu mal
este caso em que uma estrela do
PT meteu os pés pelas mãos.
Biondi falava por si, aludindo
ao fato de que Serra terá muito
mais tempo na TV do que os demais. Mas seu "desafio" indireto
à mídia é, na verdade, o mesmo
que a sociedade faz a ela.
Principalmente quando o país
afunda -e o faz-de-conta publicitário se distancia dessa realidade explosiva-, na hora decisiva da disputa pelo poder.
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