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"Omt... o quê?"
Participei quinta-feira de seminário na Universidade Federal da Paraíba sobre "Mídia, Governo, Cidadania e Ensino".
Em meu painel ("Crítica à Mídia Brasileira Contemporânea"), houve três expositores.
Primeiramente, resumi um
quadro da imprensa no Brasil,
enfatizando a importância de
discutir instrumentos de responsabilização social da mídia. Dei
exemplos de outros países, falei
da relação entre direito à informação e democracia.
O professor que me sucedeu no
microfone traçou um panorama
crítico em relação ao ensino da
comunicação, defendeu a necessidade de evolução nas grades de
currículos, com destaque para a
valorização da pesquisa.
O terceiro painelista, também
docente, propôs uma revisão da
crítica, fez uma crítica à "crítica
totalitária" da mídia, citando
diversos autores renomados (nomes como Durkheim, Adorno,
Habermas, entre outros) e escolas sociológicas.
Vieram, então, as perguntas
por escrito do auditório, formado por cerca de 250 pessoas entre
estudantes e professores.
Ao ler uma delas, pisquei os
olhos várias vezes. Em letra caprichada, provavelmente feminina, dizia assim:
"O que é omt... sdulman? Desculpe a ignorância, é que somos
do primeiro ano de jornalismo".
Ora, eu falara de "sistemas de
responsabilização da mídia",
entre outras coisas, a um auditório que, ao menos em parte, até
ali nem sequer sabia em que
consistia a minha função. E
eram, já, universitários, estudantes de jornalismo.
Felizmente tive tempo de remediar, responder à legítima interrogação. A partir daí, imagino, facilitou-se a compreensão
do que eu mesmo dissera antes.
Em minha cabeça ficou, também, muita dúvida quanto à
compreensão que boa parte do
público possa ter tido das interessantes, porém complexas, exposições feitas pelos meus colegas de mesa. Espero estar enganado.
De todo modo, o episódio chamou-me a atenção para a possibilidade permanente de existir
um fosso entre quem escreve (ou
fala) e quem lê (ou escuta), fosso
bem maior do que o emissor da
fala ou do texto possa imaginar.
O que leva diretamente a pensar
na relação jornalista/leitor.
A esse propósito, são ilustrativas as pertinentes interrogações
de uma leitora sobre o seguinte
"texto-legenda" de uma foto publicada em Esporte, na edição
nacional da mesma quinta: "O
goleiro Mare Cech, do Zilina, vê
seu colega Marian Klago chutar
em seu gol e empata o jogo em 1
a 1 com o Basel. A partida de volta da fase preliminar da Copa
dos Campeões será quarta".
Pergunta a leitora:
"Zilina? Basel? De onde viriam
esses "famosos" e conhecidíssimos
clubes? "A partida de volta será
quarta". OK. Na casa de quem? O
jogo foi na cidade do Zilina ou
do Basel? Ou os dois são da mesma cidade? Aliás, de que continente? Última pergunta: o caderno é só para iniciados?".
Quem dera cada jornalista pudesse passar pelo menos dois
dias por ano, intensivamente, no
meio de um grupo de leitores ou
de estudantes de jornalismo. Seria um aprendizado e tanto.
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