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Jornalistas vendedores (2)
Uma informação grave se espalhou pelas Redações e sites especializados no meio da semana: a suspensão, pelos jornais "O
Globo" e "O Estado de S.Paulo",
da coluna diária do jornalista
Joelmir Beting.
O jornal do Rio deu o aviso a
seus leitores na quarta-feira (3).
O diário paulista, no dia seguinte. Motivo: Beting, um dos pioneiros e mais conhecidos jornalistas da área econômica do país,
resolveu ser garoto-propaganda
de um banco. Veja reproduções
no quadro ao lado.
Em comunicado interno, reproduzido no site "Comunique-se", o diretor de Redação do
"Globo", Rodolfo Fernandes, argumenta: "Sua decisão de passar
a aceitar convites para fazer propaganda comercial não é compatível com a publicação da coluna e contraria as Normas de
Conduta do jornal (...) são funções inconciliáveis uma coluna
-especialmente, no caso, de
economia- e a propaganda de
serviços de um banco".
No mesmo site, Beting escreveu
que nada no seu contrato o impede de "fazer publicidade comercial, propaganda política ou
passeata de protesto". Para ele,
desde que haja transparência, e
não "merchandising jornalístico", não há erro na decisão.
Já comentei a questão aqui
(25/5), a partir de um caso relativo a colunista da própria Folha.
O que está em jogo não são a
ética individual ou as opções do
jornalista Beting, mas sim o estado de suspeição, a exposição e
a fragilização a que ele submete,
mesmo sem querer, sua coluna e
os veículos em que é publicada.
Todo leitor teria o direito de se
perguntar, a partir do seu duplo
casamento (publicidade e jornalismo), qual a real capacidade de
isenção do colunista em relação
a eventuais assuntos que venham a "cruzar" de alguma forma com os interesses da instituição cujos serviços ele ajuda a
vender. O conflito está, por princípio, estabelecido.
Aqui, seja qual for a índole do
protagonista, a credibilidade jornalística, mesmo sendo um valor
subjetivo, fica automática e objetivamente comprometida.
Ainda mais num momento de
crise das empresas de comunicação, em que são crescentes as
pressões no sentido de se derrubar a tradicional e indispensável
barreira entre publicidade e noticiário, a atitude do "Globo" e
do "Estado" merece elogio.
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-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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