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OMBUDSMAN
BBC e Cultura
BERNARDO AJZENBERG
Embora com algum atraso,
devido às férias, e depois de
tantos textos já publicados sobre
o tema, vejo-me na obrigação de
comentar ao menos um aspecto
dentre tantos suscitados pela divulgação dos resultados do inquérito efetuado pela Justiça
britânica sobre o suicídio do
cientista David Kelly, as supostas responsabilidades da BBC,
inculpada, e do governo de Tony
Blair, inocentado.
As falhas técnicas cometidas
pela rede de rádio e TV ao informar, em maio de 2003, que o
dossiê sobre as supostas armas
de destruição em massa iraquianas havia sido "apimentado"
pelo governo parecem claras:
não se ouviu o "outro lado", inflou-se a dimensão da fonte citada em "off" e forçou-se um tanto
a barra nas afirmações dessa
mesma fonte (mais tarde "vazada" à mídia pelo próprio governo como sendo Kelly).
Mas essas falhas, condenáveis,
infelizmente são muito mais comuns do que se imagina. Quem
acompanha atentamente a mídia encontra deslizes do mesmo
gênero por toda parte, em assuntos mais ou menos relevantes, com desdobramentos maiores ou menores.
Além disso, se errou gravemente nos procedimentos, a peça jornalística em questão, conforme revelações das últimas semanas, acertou no principal.
Ocorre que, ali, houve um suicídio -um drama nacional- e
que uma guerra surda já se havia instalado desde muito antes
entre a BBC e o governo Blair,
em especial a propósito da invasão do Iraque.
A "pisada de bola" da rede pública, naquele momento, caiu
como uma luva para o primeiro-ministro tentar virar um jogo
que se lhe configurava desfavorável perante a opinião pública,
contexto no qual as afirmações
do repórter Andrew Gilligan, em
si, poderiam acrescentar tempero numa conjuntura cuja pauta
acabaria por incluir até mesmo
a queda de Blair.
Enquanto ele e seus ministros,
a partir daí, foram implacáveis,
profissionais, esmagadores
-assim como o juiz lorde Brian
Hutton-, a BBC embaraçou-se,
padeceu de inapetência reativa.
Deduzir que esse embate político ameaça o jornalismo investigativo e a liberdade de imprensa na Grã-Bretanha e no mundo
me parece certo exagero.
O que Blair visava, de imediato, mais do que docilizar a BBC
(objetivo, digamos, de longo
prazo), era sua própria sobrevivência no poder -daí o furor e
a determinação de sua ofensiva.
A julgar pelas pesquisas mais
recentes, nada garante que o governante irá vencer a guerra
após a batalha vitoriosa.
A octogenária BBC, considerada a maior e mais influente rede
de radiodifusão do mundo, sai
do confronto com o rabo entre as
pernas, mas, ao contrário do
premiê, angaria, ainda, forte
confiança dos britânicos.
Jornalismo público
Ainda sobre redes públicas -e
voltando os olhos para o nosso
pequeno quintal-, impõe-se
dar atenção para o que a TV
Cultura promete enfatizar a
partir de amanhã em sua programação: "um jornalismo público independente do poder e
do mercado", não para divertir,
mas para "informar, explicar,
esclarecer e criticar".
Os programas terão "erramos"
e um apresentador fará questionamentos aos próprios colegas.
Segundo Marco Antonio Coelho, diretor de jornalismo da rede, com quem conversei, um
manual (espécie de "guia de
princípios", em sua primeira
versão) deve começar a circular
no fim deste mês e o objetivo é,
também, instituir a figura de
um crítico interno ("editor de
qualidade"), além de, mais
adiante, um ombudsman (com
direito a inserção na grade da
programação).
Nada mais bem-vindo, em especial num ano eleitoral.
A conferir.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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