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Amostra perigosa
É comum um rosto conhecido
ocupar simultaneamente capas
de diferentes revistas femininas
ou de "celebridades".
Muito raramente, porém, isso
acontece com revistas semanais
de informação -a não ser em
casos "quentes" que envolvam
autoridades. Pois aconteceu, na
semana passada, com a "Época"
e a "Veja São Paulo".
Como mostra o quadro ao lado, ambas reservaram a capa
para reportagem sobre segurança pessoal e a ilustraram com a
cantora Wanessa Camargo. Mera coincidência? Nem tanto.
Além de "celebridade", Wanessa é de uma família que já sofreu com a violência (o caso de
um tio, irmão de seu pai, Zezé di
Camargo) e vive, ela própria, numa espécie de gaiola móvel.
Sua escolha tem lógica, mas
não explica a coincidência.
Ao tentar entender como as
duas revistas saíram tão parecidas, apurei que a iniciativa da
pauta (o tema segurança) não
teria sido da assessoria da cantora, mas sim das próprias revistas
("Veja-SP" em primeiro lugar).
A assessoria aceitou o pedido
da primeira e depois topou o da
segunda, embora calculando
que as duas reportagens seriam
publicadas em datas diferentes.
É fácil supor, no entanto, que
uma das publicações, sabendo
da pauta da outra, não admitiria sair com a sua, quase igual,
uma semana depois.
Quaisquer que sejam os detalhes desses "bastidores", porém,
o problema de fundo é que o jornalismo, aqui, foi vitimado.
A opção simultânea das duas
publicações por Wanessa corresponde a um fenômeno muito
mais amplo: a pressão crescente
e competente da indústria do entretenimento sobre a pauta da
imprensa (com a aquiescência
desta), para torná-la veículo de
promoção sem pagar por isso.
Trata-se de uma "celebridade"
-e, comercialmente, um novo
produto- em ascensão.
A rara coincidência dessas capas reflete o avanço de um namoro (jornalismo e entretenimento) do qual nem sempre a
notícia é o combustível principal.
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