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Briga com a notícia
Poucas vezes a expressão "muro de silêncio" coube tão bem como na (ausência de) cobertura
da greve dos servidores do Judiciário paulista, iniciada dia 27.
A categoria tem cerca de 42 mil
trabalhadores espalhados por
mais de 300 comarcas, foros distritais e regionais. Reivindica
54,31% de reajuste, entre outros
itens, sem que haja contraproposta, até o momento, do Tribunal de Justiça (TJ).
Afora o total de pessoas, sua
atividade atravessa interesses de
toda a população, das ações cíveis ao sistema prisional, das brigas de família à ordem fiscal.
Apesar disso, somente os jornais "populares" - "Agora" e
"Diário Popular"- acompanham a mobilização.
A Folha, que registrou o assunto pela primeira vez no dia 5
com uma foto de assembléia e
três parágrafos num texto mais
amplo, não esteve sozinha nessa
omissão.
Foi, porém, mais longe, "detonando" a paralisação em reportagem nessa sexta-feira.
No texto, sem dar voz aos servidores, o jornal traz declarações
do juiz-corregedor dos presídios,
Otávio Augusto de Barros Filho
(pelo TJ), e do adjunto da Segurança Pública, Mario Papaterra.
Seus dados indicam que com a
greve se adiaram cerca de 6.000
audiências, piorando, por exemplo, a superlotação de presos nos
distritos e cadeiões. "É o fim do
mundo", sintetizou Papaterra.
Ora, se esse movimento teve e
tem consequências tão graves assim, como explicar a sua ausência no noticiário dos "grandes
jornais"? Por que a Folha o deixou de lado, para dele tratar somente agora, e com um nítido
viés antigreve?
Não se reclama, aqui, que o
jornal apóie a mobilização, mas
apenas que não a ignore e que a
trate com imparcialidade, conforme determina o seu "Manual
da Redação".
Não pelos grevistas, mas pelo
conjunto de seus leitores, envolvidos, sim, nos resultados desse
movimento.
Escândalo no Acre
Essa briga com a notícia, aliás,
se expressou em outro caso na
semana que passou.
Trata-se da revogação da prisão preventiva de dois agricultores que ficaram detidos no Acre
mais de dois anos, injustamente,
sob acusação, sem provas, de estupro e assassinato.
O pai de um deles, inclusive, teria cometido suicídio por causa
da situação quando o filho fez
um ano de cadeia.
Nesse caso a Folha incorreu
num erro menor e num maior.
O primeiro, nas edições regionais e na edição Nacional, foi
confinar a notícia em uma nota
de "Panorâmica", sendo que o
evento, dramático, merecia ao
menos chamada na primeira
página do jornal.
O segundo erro, mais grave, foi
simplesmente suprimir o texto
na edição SP/DF.
É verdade que, nesse período, o
noticiário embutiu episódios de
alta galvanização, a começar pelo caso Abravanel.
Mas o leitor não tem culpa (ou
tem?) de viver num país onde
são tantos e simultâneos os fatos
relevantes. O desafio do jornal é
justamente saber selecioná-los.
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