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Painel do Outro Lado
Algo diferente tem havido na
Folha com a aplicação (ou não-aplicação) do princípio do "outro lado" (ouvir versões de pessoas ou instituições afetadas no
noticiário). Só isso explica, na semana passada, a ocupação tão
exacerbada do Painel do Leitor
por cartas de autoridades/personalidades/celebridades questionando matérias.
O susto começou na terça,
quando a seção foi toda ocupada
por apenas duas cartas de representantes de instituições "atingidas" pelo jornal.
No dia seguinte, a categoria
ganhou quatro das nove mensagens, sendo a última uma crítica
justamente ao desvirtuamento
verificado no dia anterior: "É
um absurdo o que a Folha faz
com o "Painel do Leitor'", queixava-se Carlos Kolb (São Paulo).
Na quinta, foram cinco do total de sete. Na sexta, um "replay"
da terça: nenhuma das (quatro)
cartas era de "simples" leitor.
Segundo a direção de Redação
(DR), o Painel aproveita, em média, cerca de 10% das mensagens
que recebe. Seu raciocínio: se fosse criada uma segunda seção
(apenas para leitores propriamente ditos), o aproveitamento
iria a 20%, ou seja, 80% continuariam de fora.
Além disso, o jornal acha "republicano" que autoridades e
leitores o interpelem em sua condição de cidadãos e tenham suas
mensagens publicadas no mesmo espaço.
A criação de duas seções sugeriria uma distinção entre duas
classes de leitores.
Outro argumento enviado ao
ombudsman: "Nossa seção de
cartas é frequentemente "invadida" por contestações pela simples
e saudável razão de que a Folha
tem por política publicá-las, ao
contrário da praxe em outras
publicações, que é, sabidamente,
a de engavetá-las".
Também recebi um e-mail de
um leitor comentando o assunto,
por outro caminho:
"Corajosa e transparente como
de costume, a Folha publicou a
reclamação do leitor Carlos
Kolb... A publicação da manifestação do leitor (comum), todavia, foi concomitante à das demais cartas de figurões ocupando espaço sempre desproporcional ao dos leitores. Conclusão? O
recado para nós é: ok, registramos suas queixas, mas não mudaremos nada. Paciência...".
O risco é de esvaziamento da
seção. Pior: sua transformação
em Painel do Outro Lado -algo
nocivo não só à interlocução jornal-leitor mas também ao princípio que prevê a obrigatoriedade do "outro lado" nas reportagens.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
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