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OMBUDSMAN
Corrupção e imprensa
MARCELO BERABA
A imprensa brasileira é
corrupta? Ela pode ser
comprada por forças políticas,
por grupos econômicos ou pelo
poder público?
O chamado cidadão comum,
aquele que se dispõe a parar na
rua para responder a uma pesquisa, acha que sim. Não tão
corrupta como os partidos políticos, a polícia ou as casas legislativas. Mas, tanto quanto outras instituições, a imprensa está
bastante sujeita à corrupção.
Essa é a percepção dos brasileiros entrevistados por uma
megapesquisa, em 62 países,
coordenada e analisada pela
Transparência Internacional
(www.transparency.org). O resultado foi divulgado na quinta-feira, Dia Internacional contra
a Corrupção, e teve pouca repercussão entre nós.
Em uma escala de 1 a 5, em
que a nota mais baixa indica lisura e a mais alta muita corrupção, os entrevistados foram instados a avaliar 15 instituições e
setores.
No nosso caso, os resultados
mostram que os brasileiros são
muito desconfiados e acreditam
que a corrupção é quase generalizada. Na escala de 1 a 5, os partidos políticos (4,5), a polícia
(4,4) e o Legislativo (4,2) ficaram com as piores médias. Esses
números indicam que é muito
alto o percentual dos que acham
que essas instituições estão muito afetadas pela corrupção.
Na outra ponta, entre as instituições mais bem avaliadas, a
média também é uma lástima e
não justifica nenhuma comemoração. As entidades religiosas e as ONGs tiveram média 3,
e as Forças Armadas, 3,4. Entre
esses dois extremos mal avaliados está a imprensa brasileira,
com 3,6.
Não é a imprensa mais mal
avaliada: os peruanos deram 4,2
(ou seja, quase o máximo de sujeição à corrupção), os venezuelanos, 4, e os guatemaltecos, 3,7.
Depois vem o Brasil, acompanhado da Costa Rica, da Coréia
do Sul e do México.
No conjunto dos 62 países pesquisados, os meios de comunicação tiveram média de 3,3 e ficaram exatamente na metade
da escala.
E por que os brasileiros desconfiam assim de seus veículos
de comunicação? A pesquisa
não responde. Essa é uma questão delicadíssima e difícil de ser
tratada com precisão porque
faltam elementos.
Não existe uma imprensa brasileira, mas várias. A situação
dos grandes diários do Rio e de
São Paulo, das revistas semanais e das grandes emissoras é
bastante diferente daquela vivida pela imprensa regional e pela
imprensa das pequenas cidades,
onde jornais e rádios são mais
vulneráveis.
Mas a desconfiança hoje parece generalizada -e por duas razões principais. Primeira, a falta
de transparência. Raramente a
imprensa se expõe e noticia seus
próprios podres. Segunda, sua
manifesta fragilidade, enfraquecida que está por uma crise
financeira que se prolonga.
A avaliação negativa captada
pela pesquisa da Transparência
Internacional não pode ser tomada como concludente, até
porque não esmiuça as motivações dos que responderam ao
questionário. Mas é um alerta.
Mais um.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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