|
Próximo Texto | Índice
OMBUDSMAN
A sala vazia
BERNARDO AJZENBERG
O fato, grave, passou despercebido para a maioria dos
leitores, mas certamente não para uma que, conhecendo Brasília
e algumas repartições, mandou
ao ombudsman um e-mail que
começava assim: "Levei um susto hoje ao pegar o jornal na porta da minha casa de manhã: a
foto que "ilustrava" a adesão da
greve dos funcionários do Banco
Central. Aquela não é uma sala
onde trabalham funcionários do
BC. Aquela é a sala do comitê de
imprensa do BC."
Trata-se da imagem, publicada no alto da Primeira Página
de quarta-feira (9), de uma sala que estaria vazia,
conforme o jornal dá a entender,
por causa da greve dos servidores
-a primeira sob o governo Lula.
O vazio, porém, nada tinha a
ver com a paralisação. A tal sala
é usada, na verdade, por jornalistas (da Folha, inclusive) quando vão ao BC fazer reportagens
relacionadas ao banco.
Eis, portanto, um episódio
preocupante, que faz lembrar,
inevitavelmente, ao menos num
primeiro momento, as falcatruas
criadas pelo agora célebre ex-repórter do diário "The New York
Times" Jayson Blair.
Na sexta-feira, um "Erramos"
registrava que a legenda da foto
"...não informou que no local
funciona o comitê de imprensa
do órgão, no qual não trabalham funcionários públicos".
É correto, mas burocrático e
evasivo. Claro que o erro não foi
apenas deixar de dar uma informação. Foi pior: usar uma foto
como exemplo de êxito de uma
greve enganando (com uma
omissão) objetivamente o leitor.
Consultada, a Secretaria de
Redação (SR) afirma que nem a
direção da Sucursal de Brasília
nem o editor de Fotografia tinham sido avisados pelo fotógrafo de que a sala era do comitê
e não de funcionários públicos.
Nega, ao mesmo tempo, a hipótese de ter ocorrido armação.
O autor da imagem, Lula Marques, argumenta que havia ali
outras salas vazias, mas que
aquela era a que possibilitava a
melhor visão do lado externo (a
rua), onde funcionários em greve estavam parados ao sol.
"Minha intenção foi mostrar
as pessoas de dentro do BC. Meu
lapso foi não ter garantido que a
legenda fosse transmitida a SP
[sede do jornal] com a descrição
correta da sala", diz Marques.
O secretário de Redação da Sucursal, Igor Gielow, e o editor de
fotografia, Eder Chiodetto, observam que Marques é um dos
fotógrafos mais preocupados
com a precisão das informações.
Para eles, o currículo do jornalista, "premiado diversas vezes e
respeitado como um dos mais
éticos fotógrafos de Brasília", faz
crer que "esse grave erro não foi
intencional ou movido a má-fé".
Para a SR, "isso não o torna
menos grave, e nos alerta para
reforçar o controle sobre as imagens que oferecemos ao leitor".
Já a leitora que me enviou o e-mail, indignada, concluía-o assim: "Espero que haja, pelo menos, uma discussão profunda sobre que procedimentos o jornal
espera de seus profissionais".
Criar mecanismos capazes de
garantir que as fotos sejam
acompanhadas de legendas precisas e responsáveis -qualquer
que seja o currículo do fotógrafo- seria um bom começo.
Próximo Texto: O sarro de Silvio Índice
Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|