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Um blefe, a mídia e a Sudam
A Folha começou a semana
animada, com um "furo" na
manchete de segunda-feira: "PT
muda de tática e quer instalar
CPI da Sudam". Com base em
revelações da revista "Veja", o
PT desengavetara um pedido de
CPI só da Sudam. Nenhum outro jornal falava nisso.
No dia seguinte, todos anunciavam uma das maiores bombas da história recente do país: o
rombo na Sudam, segundo o governo, passa do R$ 1,7 bi (batendo, de longe, o valor desviado da
obra do TRT-SP, por exemplo).
Sobre a CPI, só a Folha era otimista. "O PT obteve as assinaturas necessárias para pedir a CPI
e as adesões suficientes para votar a proposta em regime de urgência na Câmara...". "O deputado Babá (PT-PA) concluiu há
duas semanas a coleta de 265 assinaturas de apoio para o pedido
de urgência...".
"O Globo" informava que
"nem mesmo os líderes dos partidos de oposição acreditam na
possibilidade de instalação de
uma CPI da Sudam". A base para essa afirmação estava na impossibilidade prática de essa CPI
superar os obstáculos burocráticos e trâmites regimentais que se
levantavam contra ela.
Laconicamente, na quarta-feira, o anúncio, em Primeira Página: "Pedido de urgência para
CPI da Sudam é arquivado".
Motivo: das assinaturas coletadas pelo deputado Babá, simplesmente 16 eram de deputados
licenciados e 5 eram repetidas.
Em palavras claras: a Folha estava mal-informada e se deixara
levar por um blefe. Não soube
checar as afirmações dos deputados petistas e as reais chances
de viabilização da CPI-Sudam.
Onde estava a imprensa?
Mas nem só de blefes viveu o
caso Sudam -e aqui o assunto
ganha mais gravidade. Pois a
verdade é que a bomba do rombo de R$ 1,77 bi surpreendeu a
própria imprensa. Por quê? Porque ela não soube -ou não
quis- ir atrás de um escândalo
que passou na sua frente.
Pesquisa na Folha desde 94
mostra que a Sudam frequentou
pouco suas páginas. Só em dezembro de 95 noticiou-se algo,
sobre vantagens a políticos na liberação de verbas.
Em 96 e 97, nada. No começo
de 98, reportagens prenunciavam o caos ("Receita vê fraudes
em projetos da Sudam", em 18 de
janeiro, por exemplo), mas logo
sumiram.
O cavalo mais importante passou selado em 11 de maio de 99,
na nota "Telhado de vidro" do
Painel S/A: "A CPI dos Bancos,
que já não influencia mais o
mercado financeiro, pode se voltar contra os políticos. Quem viu
um dos últimos dossiês que apareceram em Brasília conta que
há revelações sobre os negócios
que o senador Jader Barbalho
(PMDB-PA) teria com a Sudam". Alguém montou no cavalo? Tudo indica que não.
O leitor teve de esperar até novembro de 2000 para algo sobre
o tema ressurgir. Foi a série assinada por Josias de Souza, da sucursal de Brasília, sobre desvios,
numa situação em que a Polícia
Federal, diga-se, já armara
"grampos" no caso.
Onde esteve a imprensa esses
anos todos em relação à Sudam?
Seriam, a apatia e a ausência de
verve investigativa, frutos que o
advento do tucanato ao poder
gerou nos meios de comunicação, em especial na Folha?
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