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OMBUDSMAN
"É dose!"
BERNARDO AJZENBERG
O primeiro aniversário
dos ataques terroristas de
11 de setembro recebeu algumas
edições especiais- a Folha e o
"Globo" no domingo passado, o
"Estado de S.Paulo" na quarta.
O caderno da Folha (12 páginas), sem novidades em relação
à investigação jornalística sobre
os atentados, priorizou análises
e balanços setoriais (geopolítica,
cultura, economia).
Destacam-se, nessa edição,
certa timidez na abordagem crítica em relação aos EUA (falhas
na segurança, infrações contra
liberdades individuais ou direitos humanos em nome da "guerra contra o terrorismo", por
exemplo) e uma escassez em matéria de reportagens sobre a visão da efeméride fora do eixo
EUA/Europa, em especial nos
países árabes.
Chama a atenção esse desequilíbrio agora, principalmente
diante das edições históricas da
Folha sobre os mesmos eventos,
no ano passado, caracterizadas,
no seu conjunto e na sua sequência, por um tratamento mais
equânime em relação às forças
em conflito.
O caderno especial do "Globo"
(16 páginas), embora com tratamento mais superficial, mesclou
tendências e reportagens ilustrativas. O do "Estado" (12 páginas)
reproduziu material do "New
York Times" (cujo caderno especial, dia 11, saiu com 48 páginas),
numa linha que conseguiu unir
textos de tom nitidamente patriótico (elegias a Nova York e
aos milhares de mortos) a outros
de natureza crítica em relação
ao governo americano.
Em nenhum desses casos, porém, surgiram revelações inéditas de peso sobre os acontecimentos propriamente ditos. É como
se, um ano depois, no momento
em que o presidente George W.
Bush tenta trocar Osama bin Laden por Saddam Hussein como
inimigo número 1, a investigação
jornalística sobre a queda das
torres gêmeas e sobre a Al Qaeda
se pusesse, mesmo nos EUA, em
compasso de espera.
Realidade e ficção
A novidade na efeméride foram as imagens na TV, em especial os documentários com cenas
inéditas do terror. Um destaque
cabe aqui para a impactante filmagem dos irmãos franceses
Geodon e Jules Naudet, sob o título "9/11".
E foi nesse terreno que a Folha
cometeu um deslize no mínimo
curioso, reflexo de como a falta
de checagem sistemática de dados pode comprometer serviços
oferecidos pelo jornal.
No domingo, o TV Folha
anunciava que a Bandeirantes
exibiria às 22h15 de quarta (11) o
filme "O Dia em que a Terra Parou", uma ficção científica de
1951, dirigida por Robert Wise.
Pois, na mesma edição, uma
reportagem em outra página sobre as celebrações do dia 11 apresentava, entre outros, como seria
o documentário "O Dia em que
a Terra Parou", preparado pela
mesma emissora para as mesmas 22h15 da quarta, sob comando de Roberto Cabrini.
Instalava-se a confusão: afinal,
o que seria exibido pela Band, o
filme ou o documentário? Pura
desinformação.
Segundo relato que recebi da
Redação, na lista de filmes a serem mostrados entre os dias 9 e
15 enviada pela Bandeirantes,
constava o item "Especial 11 de
Setembro - O Dia em que a Terra
Parou", sem ficha técnica.
A Redação, então, "supôs" que
se tratasse do filme clássico de
Wise, pertencente ao acervo da
Band, e incluiu sua sinopse no
TV Folha -sem se dar conta, ao
mesmo tempo, de que no quadro
em que se apresentavam os programas especiais sobre os atentados também havia um documentário chamado "O Dia em
que a Terra Parou".
Repetição
Não bastasse o desencontro
numa única edição -o qual
não mereceu nenhuma correção,
diga-se, nos dias seguintes-,
houve algo ainda pior: simplesmente a repetição do problema,
na Ilustrada, três dias depois.
As mesmas duas informações
contraditórias, agora lado a lado, com o filme de Wise recebendo inclusive ficha completa: sinopse do enredo, nomes do elenco e até mesmo avaliação (três
estrelas).
Tudo isso depois de pelo menos
um jornal concorrente ("O Estado de S.Paulo") ter publicado
desde o início, domingo e quarta, a informação correta.
Quem, após ler a Folha naquele dia 11, acompanhou a programação da Band à noite e viu, na
tela, o documentário apresentado por Cabrini -não a ficção
científica de Wise- teve motivos para se sentir ludibriado.
Qualquer que seja a explicação
para a "trapalhada", dificilmente ela aplacaria a indignação de
um leitor de Presidente Prudente
(SP), assim resumida em e-mail:
"Prometi que a anterior seria a
última mensagem, mas não resisti a mais um furo homérico da
seção "Filmes na TV" da Ilustrada... E a besta aqui, confiando
na Folha, ficou esperando pela
exibição do filme com a intenção
de gravá-lo. É dose!."
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