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OMBUDSMAN
Tudo igual pontocom
RENATA LO PRETE
Do final da tarde de quarta-feira à madrugada de quinta
passada, quem foi à Internet em
busca de notícias sobre o jogador Ronaldo encontrou menos
conteúdo do que a propaganda
do novo meio permitia esperar.
A cena dramática no estádio
em Roma, características e possíveis consequências da contusão, retrospectiva da carreira:
em qualquer um desses aspectos, a cobertura online pouco
acrescentou ao que se viu na TV
e, na manhã seguinte, nos jornais.
Pelo contrário. No saldo, ficou
aquém. Também não antecipou
desdobramento relevante, qualidade presumida do tempo
real. Houve as enquetes de sempre, mas estas costumam servir
mais para entreter do que para
informar.
A quantidade modesta de
material me impressionou menos do que a acentuada semelhança entre os sites. Cosmética
à parte, os textos eram praticamente os mesmos em todos os
endereços, alimentados por dois
tipos básicos de fontes:
a) as agências internacionais
de notícias, ao lado da única do
país especializada em esporte;
b) a rapinagem pura e simples
entre sites e das reportagens de
rádio e TV.
Antes que me acusem de vilipendiar a Internet em benefício
da chamada mídia tradicional,
friso que a observação não diz
respeito às possibilidades quase
infinitas da rede, e sim ao que
vem sendo oferecido ao usuário.
Além do mais, o problema
não deixa de atingir os veículos
impressos. Basta conferir as limitações do site da Folha, que
tem reforma prevista para breve.
Trocando o joelho de Ronaldo
pela sucessão de Bill Clinton, relato os resultados recém-divulgados de pesquisa feita nos EUA
sobre a cobertura online da eleição presidencial deste ano.
O estudo foi promovido pelo
Committee of Concerned Journalists, organização interessada
em discutir a qualidade da imprensa americana (no ano passado, registrei aqui as conclusões de trabalho anterior do
mesmo grupo, sobre o escândalo
Monica Lewinsky).
Foram examinados 12 dos sites mais populares do país, em
seis datas-chave da temporada
de primárias (processo de seleção do candidato de cada partido). Ao todo, 72 páginas e 286
reportagens.
A escolha dos endereços se baseou em critério de audiência e
também no desejo de reunir um
grupo que incluísse portais (como os de AOL, Microsoft e Yahoo!), veículos originalmente
eletrônicos (caso da revista "Salon") e versões online de jornais
como "The New York Times" e
"The Washington Post".
Os principais resultados:
- 25% das páginas analisadas
não traziam material próprio,
limitando-se a reproduzir despachos de agências e conteúdo
de outros meios.
- 25% não ofereciam nenhum
elemento interativo. Para surpresa dos pesquisadores, responderam por essa fatia apenas
sites nascidos na própria Internet, e não adaptados da velha
mídia.
- em quase metade (45%) das
quatro visitas diárias aos 12 sites havia uma nova reportagem
de abertura, bom resultado do
ponto de vista da atualização
das notícias.
- não tão bom, ponderam os
autores do estudo, quando se
observa que, em muitos casos, o
principal fato do dia foi expulso
rapidamente do cardápio ou
mesmo ignorado.
- reportagens de maior profundidade, com temas ligados à
plataforma dos candidatos, foram parcela ínfima (2%).
- o levantamento não corroborou idéia de que a Internet seria terreno fértil para fontes
anônimas e informações pouco
fundamentadas. Mais de 50%
das reportagens de abertura tinham pelo menos cinco fontes
(número superior, sem dúvida,
à média nos jornais impressos
brasileiros). Em cerca de 90%, a
fonte principal estava identificada.
"Um exame atento", conclui o
relatório final, "revela o segredo
de boa parte da Internet: despachos da Reuters, um serviço noticioso de 149 anos de idade".
Nada contra a tradicional
agência britânica, mas a constatação mostra a distância entre o prometido oceano de diversidade informativa e o atual
estágio do jornalismo pontocom.
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Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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