São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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E a Folha?

A Folha, como sói, teve bons e maus momentos na cobertura.
1 - O jornal foi surpreendentemente ágil ao dar destaque à reportagem do "NYT" e às primeiras reações do governo, já no domingo. Explico a surpresa: a Folha, em várias ocasiões, não se saiu bem na cobertura de fatos que ocorrem no fim de semana. Às vezes, ela só entra no caso na edição de terça.
2 - Na edição de domingo, 9, foi o único jornal que publicou a íntegra da tradução da reportagem. Seus leitores puderam, portanto, julgar com melhores condições a qualidade do texto e se posicionar.
3 - O noticiário de todos os grandes jornais foi mais ou menos parecido, com pequenas diferenças.
4 - Na edição de quarta, 12, o jornal não deu manchete para o principal assunto da véspera, a expulsão do correspondente do "NYT". Preferiu destacar mais a promessa do ministro Palocci de estudar a possibilidade de algum dia fazer alguma alteração na tabela do Imposto de Renda.
5 - A grande edição da Folha foi a de quinta-feira, 13, e por conta das colunas e artigos que publicou. Embora quase todos fossem desfavoráveis à decisão do governo, teve o mérito de reservar seu espaço mais nobre da seção "Tendências/Debates", na página A3, para a defesa da medida feita pelo porta-voz da Presidência, André Singer.
6 - Se foi ágil no deslanche do caso, no domingo, a Folha demorou a expressar para os seus leitores o que achava da reportagem do "NYT" e da repercussão nacional. Seu concorrente, "O Estado de S. Paulo", já na terça-feira publicava seu primeiro editorial sobre o assunto. "O Planalto reagiu "com o fígado'", uma crítica à reação do governo antes da decisão da expulsão. A credencial do jornalista foi cassada na terça e somente na quinta a Folha publicou o editorial "Um erro".
7 - Grandes casos como esse provocam a participação dos leitores, e é importante que os jornais abram espaços para as manifestações. A Folha publicou, de segunda a sexta, 21 cartas de leitores, sendo que 11 contra a reação e a decisão do governo Lula e dez a favor, um resultado bem equilibrado e bem diferente dos dois outros grandes jornais concorrentes. O "Estado" publicou 34 cartas ao longo da semana, sendo 27 contra o governo, cinco a favor e duas que podem ser classificadas de neutras. E "O Globo" publicou 29 cartas no mesmo período, sendo 18 contra o governo, oito favoráveis, uma resposta oficial e duas neutras.
A Folha deveria estudar a possibilidade de, em casos polêmicos como esse, abrir mais espaço para as opiniões dos leitores.


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