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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Imbróglio desportivo

Como era de esperar, a reportagem "Santos usa jogador irregular e corre risco", de quinta-feira, gerou grande alvoroço.
O texto, em resumo, afirmava que, nas seis partidas em que atuou pelo Santos entre 8 e 29 de julho, o jogador Jerri o fez de modo irregular, pois seu novo contrato com o clube, firmado no dia 8, só foi tornado público no boletim oficial da CBF no dia 29.
Pelas regras da confederação, um atleta só pode jogar 72 horas depois de ter sua documentação aprovada e publicada no Boletim Informativo Diário (BID).
Com isso, os adversários do Santos podem, num prazo definido, requisitar na Justiça os pontos perdidos -o que, em tese, poderia levar o time da Vila Belmiro, segundo colocado, a cair quatro posições na tabela do campeonato Brasileiro.
A edição trazia, ainda, pequeno texto com a posição do Santos sobre o assunto.
No mesmo dia, rádios e sites atribuíram à CBF, ao Santos e a pelo menos um especialista a afirmação de que não havia irregularidade: o novo contrato era apenas reformulação (devido a aumento salarial) do anterior, continuando válida entre 8 a 29 de julho a primeira publicação sobre Jerri no BID (4 de abril).
O mesmo desmentido saiu em vários jornais da sexta, inclusive o "Agora" -do Grupo Folha-, que, na véspera, reproduzira o material da Folha. O "Agora" chegou a citar entre aspas um inequívoco desmentido do diretor de registros e transferências da CBF, Luiz Gustavo Vieira.
A Folha, porém, manteve sua postura e anunciou que a Ponte Preta recorrera à Justiça e que a CBF não se pronunciara sobre o assunto, optando por não fazê-lo até que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva analise as queixas que receber (ontem, repetiu a dose, unindo à lista os recursos de Fluminense e Goiás e registrando pronunciamento do Santos no qual o clube, embora mantendo a mesma posição, fala em novo contrato, não mais apenas em "aditivo" ao anterior, como no primeiro dia).
Na sexta, recebi mais de 30 mensagens de leitores -a maioria formada por santistas- inconformados, exigindo retratação. Na crítica interna, comentei a contradição entre a divulgação das versões da CBF (pró-Santos) na mídia e a afirmação de que a entidade não se manifestara.
Questionado, o editor de Esporte, Melchiades Filho, afirma que a convicção da Folha se baseou num julgamento dos repórteres e do editor, além de informações do departamento de registros da confederação.
Reiterou que, até a noite de sexta, não houvera pronunciamento oficial da CBF (presidência, secretaria-geral, diretoria técnica ou diretoria de registro), que o diretor Vieira negou à Folha ter dado as opiniões a ele atribuídas na mídia e que o assessor de imprensa da entidade, Rodrigo Paiva, confirmava não ter feito declarações.
O jornal apostou alto ao assumir de modo cabal, sem citar nenhum especialista ou nenhuma fonte -e ignorando o "outro lado" do Santos-, a grave posição de que há irregularidade.
Se está certo ou errado no seu julgamento, só o STJD poderá confirmar. Jornalisticamente, porém, penso que o caso, de tão polêmico, merecia um tratamento menos impositivo.
O jornal faria melhor se divulgasse também diferentes posições de especialistas em direito desportivo, argumentos divergentes, regulamentos, dados a mais, enfim, para o leitor -santista ou não- formar opinião.
A Folha merece elogios por buscar, como neste caso, o exercício crítico do jornalismo. É algo de que não deve e não pode abrir mão. Ao dar tiros sentenciosos a partir de um lado da polêmica (registrando o "outro lado" como se fosse só para constar), porém, coloca-se, ela própria, no lugar da Justiça -o que já não é sua função.



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