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Imbróglio desportivo
Como era de esperar, a reportagem "Santos usa jogador irregular e corre risco", de quinta-feira, gerou grande alvoroço.
O texto, em resumo, afirmava
que, nas seis partidas em que
atuou pelo Santos entre 8 e 29 de
julho, o jogador Jerri o fez de modo irregular, pois seu novo contrato com o clube, firmado no
dia 8, só foi tornado público no
boletim oficial da CBF no dia 29.
Pelas regras da confederação,
um atleta só pode jogar 72 horas
depois de ter sua documentação
aprovada e publicada no Boletim Informativo Diário (BID).
Com isso, os adversários do
Santos podem, num prazo definido, requisitar na Justiça os
pontos perdidos -o que, em tese, poderia levar o time da Vila
Belmiro, segundo colocado, a
cair quatro posições na tabela do
campeonato Brasileiro.
A edição trazia, ainda, pequeno texto com a posição do Santos
sobre o assunto.
No mesmo dia, rádios e sites
atribuíram à CBF, ao Santos e a
pelo menos um especialista a
afirmação de que não havia irregularidade: o novo contrato era
apenas reformulação (devido a
aumento salarial) do anterior,
continuando válida entre 8 a 29
de julho a primeira publicação
sobre Jerri no BID (4 de abril).
O mesmo desmentido saiu em
vários jornais da sexta, inclusive
o "Agora" -do Grupo Folha-,
que, na véspera, reproduzira o
material da Folha. O "Agora"
chegou a citar entre aspas um
inequívoco desmentido do diretor de registros e transferências
da CBF, Luiz Gustavo Vieira.
A Folha, porém, manteve sua
postura e anunciou que a Ponte
Preta recorrera à Justiça e que a
CBF não se pronunciara sobre o
assunto, optando por não fazê-lo
até que o Superior Tribunal de
Justiça Desportiva analise as
queixas que receber (ontem, repetiu a dose, unindo à lista os recursos de Fluminense e Goiás e
registrando pronunciamento do
Santos no qual o clube, embora
mantendo a mesma posição, fala em novo contrato, não mais
apenas em "aditivo" ao anterior,
como no primeiro dia).
Na sexta, recebi mais de 30
mensagens de leitores -a maioria formada por santistas- inconformados, exigindo retratação. Na crítica interna, comentei
a contradição entre a divulgação
das versões da CBF (pró-Santos)
na mídia e a afirmação de que a
entidade não se manifestara.
Questionado, o editor de Esporte, Melchiades Filho, afirma
que a convicção da Folha se baseou num julgamento dos repórteres e do editor, além de informações do departamento de registros da confederação.
Reiterou que, até a noite de
sexta, não houvera pronunciamento oficial da CBF (presidência, secretaria-geral, diretoria
técnica ou diretoria de registro),
que o diretor Vieira negou à Folha ter dado as opiniões a ele
atribuídas na mídia e que o assessor de imprensa da entidade,
Rodrigo Paiva, confirmava não
ter feito declarações.
O jornal apostou alto ao assumir de modo cabal, sem citar nenhum especialista ou nenhuma
fonte -e ignorando o "outro lado" do Santos-, a grave posição
de que há irregularidade.
Se está certo ou errado no seu
julgamento, só o STJD poderá
confirmar. Jornalisticamente,
porém, penso que o caso, de tão
polêmico, merecia um tratamento menos impositivo.
O jornal faria melhor se divulgasse também diferentes posições de especialistas em direito
desportivo, argumentos divergentes, regulamentos, dados a
mais, enfim, para o leitor -santista ou não- formar opinião.
A Folha merece elogios por
buscar, como neste caso, o exercício crítico do jornalismo. É algo de que não deve e não pode
abrir mão. Ao dar tiros sentenciosos a partir de um lado da polêmica (registrando o "outro lado" como se fosse só para constar), porém, coloca-se, ela própria, no lugar da Justiça -o que
já não é sua função.
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