São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2000

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Por que não?

No cardápio de temas da caixa de correspondência da ombudsman, a foto de Marta Suplicy em uma boate gay sucedeu a manchete "Kuerten troca ouro por dinheiro". Não provocou o mesmo número de manifestações do caso anterior, mas pode-se dizer que ficou com o posto de "protesto da semana".
A imagem saiu na Primeira Página de sábado, 9 de setembro. Mostrou a candidata do PT à prefeitura paulistana no momento em que deixava a casa noturna "A Loca", depois de uma visita de 15 minutos. Ao fundo, dois frequentadores do local, um deles uma drag queen.
Um leitor considerou a escolha um "claro equívoco editorial". Outro viu "sensacionalismo". "Marta parece assustada", escreveu um terceiro, "com a expressão de alguém que não queria ser visto". Se não queria, entende esse leitor, o jornal deveria tê-la deixado em paz.
As mensagens tinham em comum a previsão de que uma foto como aquela causaria dano eleitoral à candidata.
"Por que colocar imagens que não serão compreendidas por grande parte da classe média da cidade?", perguntou um leitor. "A Folha se aliou aos que disseminam preconceito", opinou outro.
Sinto, mas desta vez discordo dos leitores. Marta lidera a disputa. Sua história política está ligada à defesa dos direitos de minorias. Dias depois de dois atentados ocorridos em São Paulo, um deles contra a organização da Parada Gay, ela foi fazer campanha na boate.
Decidiu, portanto, não esconder sua ligação com essa causa. Se ela não escondeu, por que o jornal deveria fazê-lo? É notícia sob qualquer ângulo que se analise. A menos que se espere que a Folha coloque candidatos no colo, e não que faça jornalismo.
Para completar, Marta saiu da semana com mais intenções de voto do que entrou, de acordo com o Datafolha. Ainda que não se possa estabelecer relação entre sua incursão pela noite e esse crescimento, mal a ida à boate não lhe fez.


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