São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Índice

OMBUDSMAN

Mais reprise

Em abril de 1998, uma leitora me procurou para manifestar surpresa com um dos artigos semanais de Arnaldo Jabor na Ilustrada. "As idéias e palavras" do autor, um de seus favoritos no jornal, haviam lhe parecido "muito familiares".
O alerta permitiu descobrir que mais de metade do texto era reprodução literal de outro de Jabor que havia saído no caderno dois anos antes. Questionado à época, o articulista considerou o recurso "perfeitamente plausível". "Teria sido melhor evitar a publicação", declarou a Secretaria de Redação.
Na terça-feira retrasada, ele voltou a apresentar texto antigo como se fosse inédito. O artigo "A liberdade virou uma invenção do demônio" repetiu longos trechos de ""Clube da Luta" anuncia excremento para a América", análise do filme assinada por Jabor em novembro de 1999.
Como no incidente de 1998, não se tratou apenas de retorno às mesmas idéias, algo comum e até certo ponto inerente ao trabalho dos colunistas. Nem de coincidência de expressões ou mesmo de algumas frases.
Foram parágrafos e parágrafos copiados, com a substituição de uma ou outra palavra por equivalente. O "baixo mecanicismo da vida social" dos EUA virou "a mediocridade da vida social" etc. "Heróis solitários" tornaram-se "heróis anarquistas". Descontados esses ajustes, cerca de 40% do texto era idêntico ao anterior.
Na noite de sexta-feira, Jabor me enviou por escrito a seguinte declaração: "No artigo em questão, usei trecho de um artigo meu, escrito em 1999, sobre outro tema. Eu cito o artigo, usando a expressão "como eu já havia assinalado aqui a propósito do filme "O Clube da Luta". Acho a crítica da ombudsman desproporcional à irrelevância do fato".
É verdade que desta vez houve indicação da fonte. A menção a que ele se refere foi feita antes do primeiro dos trechos repetidos. Cabem, no entanto, duas observações.
A primeira é que a frase não constava da versão original. Ao apurar a suspeita, descobri que a Ilustrada reconheceu o texto e procurou Jabor. Ele então fez o acréscimo.
A segunda é que a frase funciona mais como álibi do que como esclarecimento. No que diz respeito à natureza e ao alcance da citação, o leitor foi tão iludido quanto da outra vez. Imagina que houve a retomada de uma discussão, não que boa parte do texto foi copiada do arquivo.
De acordo com a editora-executiva da Folha, Eleonora de Lucena, "o jornal condena" esse procedimento. Se o articulista o considera normal, ao menos o leitor deveria ser avisado, com todas as letras, quando estiver diante de reprise.


Texto Anterior: Ombudsman - Renata Lo Prete: Na trilha de Nicolau
Índice
Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Renata Lo Prete/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.