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COBERTURA ESPETACULOSA
Jaílson de Souza e Silva é professor universitário. Morou na
favela de Nova Holanda entre
89 e 95 e é um dos fundadores
do Ceasm (Centro de Estudos
de Ações Solidárias da Maré).
Ombudsman - A imprensa cobriu corretamente o episódio da
Rocinha?
Jaílson de Souza e Silva - Não
cobriu porque parte de um
conjunto de pressupostos. Diz
que a guerra é da Rocinha,
quando está acontecendo em
várias favelas e há anos. Quando acontece na Rocinha, que
atrapalha a vida da zona sul e
da Barra, aí vira uma comoção.
Só se discute e aprofunda o
problema no conflito. Às vezes
foca um problema importante,
como bala perdida, e depois
larga. A forma de cobertura é
espetaculosa, não vai fundo no
essencial. Exemplo: o corpo de
uma pessoa, mesmo um traficante, pode ser carregado num
carrinho de mão? Como é na
Rocinha, se acha natural. Tem
uma lógica de que a vida de um
vale mais do que a de outro.
Ombudsman - Desde o Tim Lopes os jornalistas temem entrar
nas favelas. Procede este medo?
Silva - Depende do local. É
óbvio que tem problemas, mas
sempre teve. Se você vai fazer
reportagem sobre corrupção,
também recebe ameaças. Você
não pode entrar numa favela, e
não podia há 40 anos, sem conhecimento algum. Não entra
lá como em Ipanema. Não se
pode querer que a fala da favela
seja a de Ipanema. O morador
não vai falar contra o tráfico. E
não precisa. Todo mundo sabe
que é guerra. Quando têm
oportunidade, as pessoas se
manifestam. Falam mais do
que anos atrás. O que não tem é
o destaque devido nos jornais.
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