São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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COBERTURA ESPETACULOSA

Jaílson de Souza e Silva é professor universitário. Morou na favela de Nova Holanda entre 89 e 95 e é um dos fundadores do Ceasm (Centro de Estudos de Ações Solidárias da Maré).

Ombudsman - A imprensa cobriu corretamente o episódio da Rocinha?
Jaílson de Souza e Silva -
Não cobriu porque parte de um conjunto de pressupostos. Diz que a guerra é da Rocinha, quando está acontecendo em várias favelas e há anos. Quando acontece na Rocinha, que atrapalha a vida da zona sul e da Barra, aí vira uma comoção. Só se discute e aprofunda o problema no conflito. Às vezes foca um problema importante, como bala perdida, e depois larga. A forma de cobertura é espetaculosa, não vai fundo no essencial. Exemplo: o corpo de uma pessoa, mesmo um traficante, pode ser carregado num carrinho de mão? Como é na Rocinha, se acha natural. Tem uma lógica de que a vida de um vale mais do que a de outro.

Ombudsman - Desde o Tim Lopes os jornalistas temem entrar nas favelas. Procede este medo?
Silva -
Depende do local. É óbvio que tem problemas, mas sempre teve. Se você vai fazer reportagem sobre corrupção, também recebe ameaças. Você não pode entrar numa favela, e não podia há 40 anos, sem conhecimento algum. Não entra lá como em Ipanema. Não se pode querer que a fala da favela seja a de Ipanema. O morador não vai falar contra o tráfico. E não precisa. Todo mundo sabe que é guerra. Quando têm oportunidade, as pessoas se manifestam. Falam mais do que anos atrás. O que não tem é o destaque devido nos jornais.


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