São Paulo, domingo, 18 de junho de 2000


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A escolha de Ruth

"A sra. pretende votar em alguma delas?", perguntou a Folha à Ruth Cardoso. Elas são as duas mulheres na disputa pela prefeitura paulistana. Resposta: "Vou esperar a campanha delas para ver quem me convence".
Com base nesse diálogo, o jornal achou por bem concluir, no título da entrevista publicada na segunda-feira, que a primeira-dama "diz estar entre Marta e Erundina".
Observei na crítica interna que a frase era um tanto gelatinosa para sustentar tal enunciado, comportando a hipótese de que ela não se deixe convencer por nenhuma das duas (ou que se deixe convencer mas não queira ou não possa declará-lo, o que dá no mesmo).
Não foi surpresa, portanto, ver a carta que abriu o "Painel do Leitor" de quarta-feira: "A pergunta levou a edição a produzir título que não representa minha posição. Esclareço que vou analisar as propostas de todos os candidatos para então decidir meu voto".
A mulher do presidente aproveitou para passar um pito no repórter por "dedicar espaço precioso a considerações sobre minhas roupas", perdendo "boa oportunidade para discutir a situação mundial da mulher" (ela havia participado de reunião sobre o tema em Nova York, onde foi feita a entrevista).
No mesmo dia, reportagem com declarações de FHC trazia a seguinte memória: a primeira-dama havia "afirmado à Folha que esperaria a campanha para decidir se votaria em Luiza Erundina ou em Marta Suplicy".
Como na brincadeira de telefone sem fio, essa versão é ainda mais distante das aspas da entrevistada do que o título de segunda-feira.
Era evidente que ele daria problema. Ao menos em público, os tucanos ainda não abandonaram a tarefa sobre-humana de tirar do chão a candidatura de Geraldo Alckmin. E Ruth Cardoso não é o tipo de pessoa que facilita a vida da imprensa calculando mal as palavras.
Havia um jeito simples de tirar questão a limpo antes de publicar a entrevista: refazer a pergunta. Infelizmente, esse recurso não costuma entusiasmar jornalistas. Com meia notícia na mão, temem ficar sem nenhuma. Preferem retocá-la para parecer notícia inteira.


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