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Sinal de alerta
O jornalista se assemelha ao
homem público em vários aspectos. O principal: ambos têm a
possibilidade de atuação vinculada à capacidade da sociedade
de assegurá-la, por meio da democracia.
Por isso, tal como governantes e
parlamentares, repórteres e editores têm, sim, contas a prestar.
Quanto à honestidade, por
exemplo: não basta ser, tem que
parecer honesto.
Tudo isso a propósito de mais
um caso em que o relacionamento entre fonte e jornalista faz pensar o quanto a vigilância do leitor é indispensável.
Aconteceu terça passada,
quando jornais noticiaram que a
editora da "Veja" Eliana Simonetti fora demitida por manter
relacionamento que a revista julgou "impróprio" com o lobista
Alexandre Paes dos Santos, investigado pela Polícia Federal.
Segundo a PF, a agenda de APS
trazia o nome da jornalista e,
mais do que isso, seu número de
conta corrente.
Em conversa com o ombudsman, Eliana nega que o namoro
-depois amizade- com APS
tenha influenciado seu trabalho
jornalístico, confirma ter recebido dinheiro dele (em torno de R$
40 mil ao longo de alguns anos)
como empréstimo pessoal e diz
que a revista sempre soube, desde
o início dos anos 90, de seu relacionamento íntimo.
O secretário de Redação da
"Veja", Julio Cesar de Barros, me
disse que a demissão ocorreu
principalmente por conta do laço
financeiro, revelado à revista na
segunda-feira, e que sua direção
só soube da intimidade pessoal
entre APS e sua editora na sexta-feira anterior.
Desse episódio, uma lição é clara: o jornalista não tem direito à
ingenuidade.
Seu relacionamento com a fonte tem de ser profissional.
Não é por dispor do número de
celular de um ministro ou saber o
nome de suas filhas que ele deve
se considerar amigo da fonte.
Se a intimidade, apesar disso,
se constrói de verdade, deve caber ao jornalista a iniciativa de
comunicá-la a seus superiores,
mudar de área de cobertura ou,
até, de veículo. Caso contrário,
com culpa no cartório ou não,
poderá sair arranhado de episódios como o que envolveu "Veja",
APS e a jornalista Simonetti.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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