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OMBUDSMAN
O Pedro de Pitta
RENATA LO PRETE
Existe um denominador comum nas manifestações de colunistas e leitores sobre o que a
Folha chama de "Pittagate".
Todos dizem que não se surpreenderam com a entrevista
da ex-mulher do prefeito de São
Paulo à Rede Globo. Tivesse ela
falado mais, como ameaça fazer, a reação seria a mesma.
Se a corrupção é tanta e tão
evidente, resta saber por que este caso, que já teve outros momentos de pico no noticiário,
não pegou antes.
Como Pedro Collor, Nicéa Pitta estava em situação privilegiada para testemunhar e/ou
participar do que agora denuncia. O fator proximidade garante impacto a suas declarações.
A melhor explicação é a que
foi dada por Marcelo Coelho e
Luís Fernando Verissimo: pegou porque virou novela.
"É como se o escândalo em si,
conhecido há tempos, não valesse muito", escreveu o primeiro
em seu artigo de quarta-feira na
Ilustrada.
No mesmo dia, no "Globo" e
no "Estado", Verissimo observou que no Brasil "a fofoca, ainda mais na forma de indiscrição familiar, funciona mais do
que qualquer outro tipo de exposição jornalística e, aparentemente, tem mais poder legal do
que acusações formais".
No terreno das novelas ninguém supera a Rede Globo.
Mesmo que agora Nicéa esteja
falando em toda parte, ela não
teria corrido para os braços de
outro veículo na hora de disparar a metralhadora. Nenhum
poderia lhe oferecer tamanha
visibilidade.
A constatação não visa diminuir o feito da emissora. É verdade que, ao longo da semana,
as aparições de Nicéa na líder
de audiência foram serializadas
até a apelação. Não havia mais
o que retirar dali.
Mas a entrevista original, levada ao ar na noite do dia 10,
merece mais elogio do que reparo. A ausência de "outro lado"
no trecho mostrado no "Jornal
Nacional" não me parece questão central, porque:
a) na apresentação integral,
feita no "Globo Repórter" hora
e meia depois, havia "outros lados" em profusão;
b) se faltou o do prefeito (a
emissora diz que ele lhe escapou; ele diz que tentou, sem sucesso, ser ouvido), vale ponderar que Pitta já havia dado sua
versão para praticamente todos
os episódios abordados. O correto seria tê-lo colocado no programa, mas isso não significa
que sem ele a exibição deveria
ter sido suspensa.
Como costuma ocorrer nesse
gênero de polêmica, é difícil definir onde termina a discussão
sobre princípios do jornalismo e
começa o ressentimento puro e
simples pelo furo tomado.
O problema da abordagem
novelesca é que ela pode servir
bem à TV, mas não leva a Folha
a lugar nenhum.
Tão surpreendido quanto os
concorrentes pela entrevista, o
jornal passou a semana tentando se refazer do susto e encontrar uma linha de cobertura.
Começou mal. Na terça-feira,
sem novidade para destacar,
sua principal reportagem não
apenas assumia que Nicéa havia "entregado provas" ao Ministério Público como adiantava que elas eram "regulares".
Tudo segundo "promotores".
Nada de nomes.
Não se trata de desqualificar
as denúncias, mas sim de manter a necessária distância dos
interesses de todas as partes envolvidas.
O tom melhorou na quarta-feira, mas foi na quinta que a
Folha teve, pela primeira vez,
algo diferente para oferecer:
conseguiu e publicou na íntegra
o depoimento da ex-primeira-dama ao MP.
Ele vale mais como documento do que pelas poucas novidades que trouxe, mas permitiu ao
jornal colocar sua manchete no
caminho que importa: o que leva a Paulo Maluf.
Em matérias sobre as conexões da prefeitura com empreiteiras e empresas de ônibus, a
Folha está buscando veios próprios de investigação. Mas é significativo que sua notícia de
maior impacto até agora não tenha vindo de uma reportagem,
e sim da pesquisa que detectou a
reviravolta causada pelo furacão Nicéa nos rumos da sucessão municipal.
As mensagens que recebo deixam a impressão de que a tolerância do paulistano com o que
foi feito de sua cidade chegou ao
limite. Não poderia haver melhor oportunidade para o jornal
se mostrar útil ao leitor-cidadão.
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de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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