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Marta e Alckmin
Na coluna de domingo passado tratei, pela segunda vez, da
cobertura das eleições municipais feita pela Folha. Como na
primeira vez, em maio último,
concluí que existe um nítido desequilíbrio no acompanhamento da Prefeitura de São Paulo.
Usei, como suporte, a pesquisa
quinzenal do Laboratório Doxa
(Laboratório de Pesquisas em
Comunicação Política e Opinião
Pública) do Iuperj (Instituto
Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro). Na última quinzena avaliada, de 19/8 a 1/9, as reportagens e referências à administração Marta Suplicy na Folha eram majoritariamente
(61%) negativas.
Questionei a Redação e publiquei a resposta que recebi do editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva ("Um pouco além dos
números"). Concordo com várias observações que fez. Estou
de acordo, e deixei bem claro no
meu texto, que a avaliação de
uma cobertura, qualquer que seja, não pode se basear apenas em
estatísticas. Mas há um ponto
nas suas ponderações que gostaria de trazer de volta para a reflexão do jornal e de seus leitores.
Segundo o editor, "a análise do
ombudsman talvez não considere como deveria o fato de que o
PT está no poder em São Paulo".
Não é que não considere. Considero sim, e acho, por convicção
profissional, que devemos tratar
os administradores públicos
com o máximo de rigor. Não
porque sejam todos corruptos
ou incompetentes, mas porque
uma das funções do jornalismo é
a de fiscalizar o uso dos recursos
públicos e a eficiência das políticas adotadas. Ainda mais em um
país como o Brasil, onde faltam
recursos e sobra miséria.
A minha questão não é com o
rigor que o jornal se impõe na
cobertura da administração
Marta Suplicy, mas com a inexistência de igual empenho e regularidade na cobertura da administração do governador Geraldo Alckmin.
Foi o que escrevi na última coluna, e talvez não tenha sido explícito o suficiente: "É da natureza do jornalismo, e faz parte da
tradição da Folha, uma cobertura crítica. O ideal é encontrar o
ponto de equilíbrio que permita
ao leitor perceber que o jornal está sendo igualmente rigoroso
com todos os candidatos e administrações, sem privilégios nem
perseguições".
Por que a Folha deve cobrir
bem o governo do Estado? Em
primeiro lugar, porque é governo. Em segundo, porque também está na disputa eleitoral pela
prefeitura.
Embora o Palácio dos Bandeirantes não esteja diretamente em
jogo, o partido do governador, o
PSDB, disputa com o PT a liderança da campanha e seu candidato, José Serra, tem como principal trunfo a administração
Alckmin. O governador e sua
gestão também estão, portanto,
na berlinda.
A Folha cobre bem o governo
do Estado? Não cobre, nem em
volume de reportagens nem em
exercício crítico. Quase todas as
reportagens bem feitas e que
acertadamente questionam o governo municipal identificam a
responsabilidade de Marta Suplicy. As que tratam das mazelas
estaduais, além de em menor volume, raramente apontam para o
governador Alckmin.
Isso sem contar com as reportagens sem qualquer senso crítico, como a publicada sexta-feira
em Cotidiano com o resultado
de pesquisa da Fundação Seade
sobre os índices de criminalidade
em São Paulo.
O jornal destaca a queda de
17% de homicídios em quatro
anos, atribui esta queda, ingenuamente, às "políticas de combate à violência" e ignora dois aspectos importantes: as estatísticas de criminalidade no Brasil
ainda são inconfiáveis e, dado
mais chocante, na cidade de São
Paulo, mesmo com a queda registrada, foram contabilizados,
em 2003, 47,2 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes.
Em alguns bairros da capital,
como Brás e Guaianazes, esses
números se aproximam de 90
homicídios por 100 mil habitantes. São números escandalosos e
insuportáveis e que questionam
a política estadual de segurança.
É do interesse dos leitores que o
governo do Estado receba, por
parte da Folha, a mesma atenção
que ela dedica à prefeitura.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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