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OS EDITORES
"Eventualmente é necessário ceder"
A propósito dos acordos dos jornais com as editoras para a publicação simultânea de reportagens sobre lançamentos, busquei as opiniões de dois editores de cadernos culturais. A seguir, seus comentários:
Guilherme Werneck, editor-adjunto da Ilustrada, da Folha:
Em relação ao embargo de editoras para determinados lançamentos, como foi o caso do livro
de Umberto Eco, é preciso considerar alguns pontos.
Em primeiro lugar, os embargos não são a regra da cobertura
na área de livros. E nós só cedemos a esse pedido das editoras
caso identifiquemos que o lançamento embargado é um fato
jornalístico relevante.
Os embargos são acordos para
que determinada reportagem
não seja publicada antes de uma
data preestabelecida. É natural
que, no caso de lançamentos
importantes, todos os veículos
procurem publicar na data
combinada, para evitar o furo [a
informação exclusiva].
Como há um diálogo constante com as principais editoras para conseguir materiais exclusivos, eventualmente é necessário
ceder aos embargos. É óbvio
que, quando há essa prática, a
editora é quem leva vantagem,
pois tem seu produto visível nos
principais meios de comunicação do país.
Por outro lado, o jornal, sem a
pressão do furo, tem a vantagem de conseguir produzir a
sua reportagem com tempo, o
que, na maior parte dos casos,
resulta em um material de mais
qualidade para o leitor.
Dib Carneiro Neto, editor do
"Caderno 2" do "Estado de S.Paulo":
Embargos de editoras deveriam
ser um expediente desnecessário, porque reforçam a mentalidade equivocada de que um caderno cultural é tanto melhor
quanto mais numerosas forem
as vezes em que conseguir publicar, antes dos outros, as entrevistas que os escritores certamente farão questão de conceder a todos, porque é do interesse deles vender livros.
Nos cadernos culturais, o emprego do termo "furo" é, na
maioria dos casos, uma grande
bobagem, um equívoco. Não
existe furo jornalístico nenhum
nessa obsessão por conseguir
primeiro as provas de um livro.
O leitor habitual dessa área tem
um perfil no qual o que importa
não é só "o que" se publica, mas
"como" se publica. É importante fazer bem feito.
Algumas editoras às vezes jogam desonestamente, porque
sabem que podem privilegiar
determinado jornal obcecado
pela exclusividade, em detrimento de outro mais ligado ao
compromisso com leitores. Podem agir assim porque sabem
que esse último tipo de jornal
não vai deixar de publicar a
mesma coisa em outro dia. Afinal, não é um jornal burro que
privaria seus leitores de um belo
assunto pelo motivo pífio de
que saiu antes no concorrente.
Só jornalistas vêem (lêem?)
mais de um jornal, só jornalistas
chamam de furo uma resenha
antecipada que poderia estar na
edição de outro dia.
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