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Morto é morto
Cresce a dramaticidade da situação das tropas anglo-americanas no Iraque, que esperavam
deixar o país em breve.
Fala-se em "guerra de guerrilha" por parte de resistentes pró-Saddam Hussein e em permanência das forças de ocupação,
agora, por tempo ilimitado.
Toda a imprensa, internacionalmente, fez bastante barulho
em torno do fato de que o número de soldados americanos mortos na Guerra do Iraque, contando o período pós-conflitos (oficialmente encerrados em primeiro de maio), já superou o da
Guerra do Golfo (1991).
Não é pouca coisa, em especial
para as pretensões de reeleição
do presidente George W. Bush.
Ainda mais se a isso se somam as
dificuldades dos EUA e da Grã-Bretanha para demonstrar serem verdadeiros os motivos alegados para invadir o Iraque (armas de destruição em massa, laços de Bagdá com a rede terrorista Al Qaeda).
Um levantamento divulgado
em texto do site "Editor & Publisher" (editorandpublisher.com), na última quinta-feira, indica, porém, que a situação, é ainda mais grave do que
informam as TVs e os grandes
jornais norte-americanos.
Estes, como também a Folha,
têm publicado, em regra, apenas
o número de soldados "mortos
em combate", nas chamadas
"ações hostis". Seriam, até a última sexta, cerca de 150.
Citando um outro site, criado
para contabilizar as perdas de
militares da coalizão com base
em diferentes fontes oficiais, a
reportagem do "E&P" informa,
no entanto, que, considerado o
conjunto das mortes, o total chega a pelo menos 224 americanos,
sendo 85 a partir do "final" da
guerra (ante o total de 33 que a
mídia publica, como "mortos em
combate", desde 2 de maio).
O dado é importante não só
porque, em síntese, "morto é
morto", como se diz, mas também porque, segundo o texto, as
tais mortes "fora de combate" -
analisadas uma a uma pelo site- não teriam acontecido tão
"fora de combate" assim.
Assinada por Greg Mitchell, a
reportagem argumenta: "Pode-se afirmar com segurança que
quase todas essas pessoas estariam vivas se já tivessem retornado aos Estados Unidos".
É difícil assegurar que os números analisados ou contabilizados nesses sites sejam, também, totalmente verdadeiros
(podem existir, até, outros levantamentos que ignoro). Mas eles
devem servir como alerta para
que o jornal não se limite às estatísticas parciais divulgadas pelo
governo ou pela mídia dos EUA.
Não seria o caso de acoplar aos
dados oficiais de "mortos em
combate" alguns números -como esses, por exemplo, dos "fora
de combate"- que permitam
oferecer aos leitores uma visão a
mais e, portanto, algo mais próximo da realidade?
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