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OMBUDSMAN
Bananas e maçãs
BERNARDO AJZENBERG
Pelo menos duas novidades
devem fazer diferença, neste
ano, em relação à divulgação de
pesquisas eleitorais.
Até 2000, a regra era que a Folha tinha a exclusividade para
divulgação dos levantamentos
do Datafolha, por exemplo. A
não ser que "vazassem" por algum canal irregular, seus resultados só eram conhecidos quando o primeiro exemplar saía das
rotativas.
Já a pesquisa divulgada no último dia 10 saiu simultaneamente nos jornais concorrentes. Mais
do que isso: por decisão do próprio instituto, estava na internet
e nos telejornais na noite anterior.
Da mesma maneira, a Folha,
que antes costumava registrar os
números de outros institutos
apenas em pequenas notas ou
na seção Painel, passou a divulgá-los mais visivelmente, como
notícia.
Assim, do ponto de vista jornalístico, a questão das pesquisas
eleitorais passa a requerer neste
momento um novo enfoque.
Não mais o do "furo", da exclusividade -todos divulgarão ao
mesmo tempo, em tese, as mesmas estatísticas básicas-, mas o
da capacidade de detalhamento,
análise e aprofundamento dos
dados coletados.
Aumenta, então, a responsabilidade de cada veículo, em especial a da própria Folha.
Ibope
Na terça-feira passada, os jornais publicaram a última pesquisa presidencial do Ibope, com
um cenário que excluía a ex-governadora Roseana Sarney. Foi
a primeira desde a retirada oficial de sua pré-candidatura.
O título da reportagem, na Folha, foi: "Pesquisa Ibope registra
empate técnico entre Serra e Garotinho" (veja ao lado).
Na crítica interna, questionei
se o mais adequado não teria sido destacar no título que Ciro
Gomes (PPS), com 11%, e Lula
(PT), com 35%, haviam crescido,
pois tinham 8% e 27% respectivamente no levantamento anterior (março). Essa seria a novidade, posto que Serra e Garotinho já apareciam empatados no
mês passado.
Defendendo sua opção, a Redação ponderou que seria errado
comparar os dois levantamentos,
pois se trata de simulações diferentes. Havia um cenário sem
Roseana na pesquisa de março,
mas ele incluía Itamar Franco
(PMDB) e Enéas (Prona), entre
outros, agora retirados. Contrapor uma pesquisa à outra seria
misturar banana com maçã.
Concordo que evitar tal mistura é, até mesmo, questão de bom
senso.
Transparência
A mesma pesquisa foi divulgada pelo "Globo", mas com outra
apresentação: pegaram-se os dados de dezembro e março para
formar uma curva de queda ou
ascensão dos pré-candidatos. E
aí reside um problema.
Não fica claro, na publicação,
mas o cenário escolhido para retratar nessa curva a situação em
meados de março, por exemplo,
inclui Roseana (13%), Itamar
(5%), Enéas (2%), entre outros
(peguei os dados no site do Ibope), todos limados, com os respectivos números, na confecção
do gráfico.
Não por acaso, a soma de Lula,
Serra, Garotinho e Ciro atinge
ali só 60%, ante os 81% de agora.
Pode-se argumentar que o que
fez o jornal do Rio foi simplesmente comparar o retrato "real"
anterior (quando Roseana e Itamar estavam na corrida) com o
quadro "real" das atuais pré-candidaturas, não havendo lei
da estatística que o proíba. Não
seria misturar banana com maçã, mas apenas comparar duas
situações de momento, uma tão
"real" quanto a outra.
Pode ser. Mas, nesse caso, faltou, no mínimo, expor com
transparência os cenários de
pré-candidatos usados para fazer aquelas curvas. Os especialistas em estatística certamente debaterão muito o assunto.
Afastado até segunda ordem o
trunfo do "furo", o desafio dos
jornais no que toca às pesquisas
na campanha eleitoral estará aí:
no tratamento dos dados, na sua
interpretação e na transparência, que deveria ser radical, com
que eles serão veiculados.
Se destaco o tema desde já, é
para alertar os leitores: toda
atenção será pouca, nos próximos meses, para não se deixar
levar por números ou interpretações ilusórias.
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