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Golpe e contragolpe
Muito se discutiu ao longo da
semana a respeito da cobertura
dada na imprensa ao golpe contra Hugo Chávez e sua volta à
Presidência da Venezuela.
Penso que a velocidade e a
complexidade dos eventos pós-golpe, os horários desfavoráveis,
em especial no sábado (as edições de domingo são fechadas
mais cedo do que as edições de
dia de semana), afora as dificuldades de análise política e a ausência de correspondentes permanentes em Caracas -tudo isso em nada contribuiu para que
os jornais conseguissem retratar
fielmente tudo o que aconteceu.
Particularmente, não ficou
clara, nos textos, por exemplo, a
composição social majoritária
dos manifestantes que se reuniram na semana do golpe contra
o governo e, em especial, na própria quinta-feira, diante do Palácio presidencial de Miraflores.
Ainda assim, não detectei precipitações sérias no noticiário. Se
houve equívocos, não creio que
disseram respeito a esse tipo de
problema.
Uma falha, que persistiu até os
últimos dias, diz respeito à discussão sobre a responsabilidade
pelas 15 mortes ocorridas no dia
do golpe, assunto essencial ao
qual a Folha pouco se dedicou.
Sem dúvida, porém, clara precipitação se evidenciou em análises e editoriais comemorativos
da queda de Chávez.
Basta lembrar editoriais do
"Estado de S.Paulo" e a cobertura enviesada, nos primeiros dias,
do "Jornal do Brasil" e, entre as
revistas semanais, da "Veja".
A esse propósito, vale citar a
retratação assumida em editorial na última terça-feira pelo
"New York Times", considerado
o mais influente diário do mundo, que festejara no sábado a deposição de Chávez:
"Essa reação, com a qual nós
havíamos concordado, desconsiderou a maneira não-democrática pela qual ele foi removido
(...) Depor à força um líder democraticamente eleito, não importa quão mal ele tenha se saído, é algo que não deveria jamais ser comemorado".
Belo exemplo, que, até o fechamento desta coluna, não vi seguido por outro órgão.
Houve, registre-se, um outro tipo de pedido de desculpas, dessa
vez por parte do canal venezuelano Globovision, na mesma terça-feira:
"Se cometemos um erro, nós
assumimos. Peço desculpas pessoalmente a qualquer telespectador que sinta que tenhamos falhado naquele dia", afirmou no
ar um representante da TV, conforme relato publicado no jornal
"Valor" quinta-feira.
Ele se referia ao fato de as TVs
não terem noticiado sábado as
manifestações pró-Chávez.
No domingo passado, critiquei
a Folha por não ter "cravado"
claramente, e em manchete, na
edição de sexta-feira, a queda de
Chávez.
Alguns leitores questionaram
se o retorno do militar da reserva
ao poder não mostrava que eu
errara e que o jornal acertara,
por ter agido com "cautela". Não
creio.
A volta de Chávez levou 48 horas, como poderia ter levado dez
dias -ou, até mesmo, 24 horas.
E a própria Folha deu no sábado, com todas as letras, acertadamente, a deposição.
O que comentei na coluna dizia respeito aos eventos da noite
de quinta para sexta e à capacidade de captar o que ocorreu ali,
naquelas horas.
Em termos puramente jornalísticos, a volta de Chávez já foi
um outro momento.
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