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Um retrato da corrupção
Os jornais vivem um eterno dilema: quando persistem na cobertura de casos de corrupção, os
leitores reclamam do excesso de
notícias negativas; quando diminuem as denúncias, os mesmos leitores os acusam de acobertar os escândalos.
É normal e, desde que me entendo por jornalista, tem sido assim. O ponto é este: os jornais
dão a atenção devida ao assunto, cumprem a contento uma de
suas funções sociais, que é o de
vigiar o destino dos recursos públicos? Mais ou menos.
A Transparência Brasil publicou na semana passada um estudo, "Noticiário sobre Corrupção em Jornais Diários: um Retrato das Desigualdades Brasileiras", que mostra como essa cobertura varia de Estado para Estado e é irregular. A íntegra do
estudo pode ser encontrada em
www.deunojornal.org.br.
Durante o período analisado,
de 14 de julho a 13 de agosto, foram contadas 2.865 reportagens
sobre corrupção em 56 jornais
diários de todos os Estados. Essas
reportagens trataram de 213 casos e assuntos correlatos.
Um terço das reportagens
(1.048) foi publicado nos jornais
de São Paulo, do Rio e de Brasília. Na outra ponta, jornais de
Mato Grosso do Sul, Rondônia,
Amazonas, Roraima e Sergipe
publicaram juntos 139 reportagens, ou 5%.
Os números mostram uma vigilância rarefeita nos Estados do
Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste. Em Mato Grosso do Sul
foram editadas, nos jornais locais, ao longo de um mês, 21 reportagens que de alguma maneira sugeriam suspeita de corrupção. E assim mesmo, em textos curtos.
Outro problema que a pesquisa mostrou é a falta de continuidade das coberturas. Os jornais
começam os casos, fazem grandes estardalhaços, e os esquecem.
Segundo o estudo, apenas 35%
dos 213 casos cobertos no período ficaram mais de dois dias nas
páginas dos diários.
Na Folha, volta e meia isso
acontece. Agora mesmo, o caso
Kroll, reportagem exclusiva do
jornal que mostrou que a espionagem entre empresas privadas
atingira figuras públicas e que
foi manchete dias seguidos, desapareceu do noticiário.
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