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Sem memória
Uma das queixas mais comuns dos leitores é de que os jornais, depois de enorme estardalhaço em cima de algum caso, simplesmente o abandonam, esquecem
de dar sequência à cobertura e, por vezes, perdem até mesmo o
fio que permitiria retomá-la.
O esquecimento fica mais grave quando há denúncias e reputações de pessoas postas em xeque no momento do escândalo.
Algo desse tipo apareceu na Folha de quinta-feira, num caso
em que o jornal havia se destacado ao longo de 1999.
Em 21 de março daquele ano, o caderno de Esporte revelou a
existência de um esquema de suborno que teria sido utilizado
pela Lusa um ano antes, no Paulistão-98, para "comprar" o goleiro da Portuguesa Santista, a fim de que este facilitasse no jogo
entre as duas equipes (o qual
acabou em 4 a 4).
O resultado assegurou ao time
da capital uma vaga na segunda
fase do campeonato.
Envolvendo a diretoria do clube e o empresário do jogador, o
caso recebeu chamada de Primeira Página e absoluta primazia no caderno Esporte pelo menos durante dez dias, afora a repercussão em outros veículos.
Depois, manteve-se meses em
destaque, até que em agosto a
Justiça acolheu denúncia e abriu
processo contra três diretores da
Lusa e o empresário.
Essa série de reportagens chegou inclusive a ser indicada para
o Prêmio Folha, naquele ano.
Passados quase três anos, no
semestre passado saiu a decisão
da Justiça, em primeira instância, e a Folha, como de resto a
imprensa toda, nada publicou.
Até onde pude averiguar, a
primeira notícia só saiu no diário "Lance!", no dia 20 de julho.
A Folha, que revelou o caso e
fez dele um de seus principais investimentos em 99, só veio a registrar a decisão bem depois,
quinta-feira passada, por meio
de três notas no Painel FC.
Segundo o editor de Esporte,
Melchiades Filho, a opção foi essa porque a fixação e o regime
da pena do diretor de futebol
condenado ainda não foram calculados pela Justiça (a sentença
ainda não é definitiva).
Desde que sejam relevantes, o
jornal publica decisões judiciais
de primeira instância, ressalvando que cabem recursos.
Num caso como esse, que tanto
espanto provocou à época, nada
mais natural que o assunto ganhasse bem mais destaque no
jornal -ainda mais que houve
não só duas condenações mas
também duas absolvições.
É certo que a decisão aconteceu meses atrás. Ainda assim,
mais valia retomar a notícia,
com a ênfase que ela merece, do
que quase "escondê-la" em três
notinhas.
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