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Bioequivalência de palavras
A Folha teve na semana passada um caso de plágio. À diferença de dois anteriores comentados pela ombudsman, este
não envolveu colunista do jornal. Ocorreu na página 3, que
abriga textos de amplo elenco
de autores, em regra sem vínculo com a Redação.
Em artigo publicado em 14 de
abril, o infectologista David Uip
defendeu "cuidado máximo"
com medicamentos genéricos
no tratamento da Aids.
"O portador do HIV não pode
se ver sujeito a um produto não-confiável", escreveu o diretor-geral da Casa da Aids. Remédios baratos "são muito bem-vindos ao Brasil", mas é preciso
"que cheguem com o compromisso de qualidade".
Mário Scheffer, ativista da luta contra a doença e membro do
Conselho Nacional de Saúde,
procurou a Folha no mesmo dia
para dizer que parte do artigo
era idêntica a texto que ele havia postado na Internet em 24
de março, para conhecimento
de uma rede de profissionais da
área (sairia depois em boletim
especializado).
A queixa também foi apresentada a mim. A comparação não
deixa dúvida. Um terço do que
saiu sob a assinatura de Uip estava, com as mesmas palavras,
no artigo de Scheffer.
A sobreposição atinge todo o
miolo do texto do dia 14, porção
que trata de CPI dos Medicamentos, Lei dos Genéricos e testes a que estes têm de ser submetidos (bioequivalência e biodisponibilidade).
No trecho final, Uip manifestou posição mais reservada que
a de Scheffer, cujo artigo faz defesa clara dos genéricos.
A Folha não tinha como adivinhar. A questão é saber se
agiu com transparência uma
vez constatado o problema.
Não no primeiro momento.
Domingo passado o "Painel do
Leitor" trouxe carta de Scheffer.
Abaixo, com o dobro do tamanho, saiu a resposta de Uip, fonte constante de reportagens da
Folha sobre assuntos que vão da
Aids à supergripe, passando pela saúde do governador (ele é
médico de Covas).
Sem negar nem aceitar a acusação, Uip disse que, "em assuntos tão específicos como o tratamento de Aids, a coincidência
de idéias e posições é comum".
Acima das cartas foi colocada a
palavra "polêmica".
Felizmente o episódio não terminou aí. Na quinta-feira, em
artigo na mesma página 3,
Scheffer teve a oportunidade de
manifestar seu ponto de vista.
À ombudsman, Uip disse que
os conceitos apresentados em
seu texto "são partilhados por
todos os que atuam na luta contra a Aids", e que não soube como citar, no espaço relativamente curto, as muitas fontes
que usou. "Não houve má-fé."
Ainda assim, "polêmica" é expressão inadequada para descrever o caso, que envolveu cópia pura e simples sem identificação da fonte.
O jornal não tinha como evitar o incidente, mas é sua obrigação desfazer toda dúvida sobre o que se deu.
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