São Paulo, domingo, 23 de abril de 2000


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Bioequivalência de palavras

A Folha teve na semana passada um caso de plágio. À diferença de dois anteriores comentados pela ombudsman, este não envolveu colunista do jornal. Ocorreu na página 3, que abriga textos de amplo elenco de autores, em regra sem vínculo com a Redação.
Em artigo publicado em 14 de abril, o infectologista David Uip defendeu "cuidado máximo" com medicamentos genéricos no tratamento da Aids.
"O portador do HIV não pode se ver sujeito a um produto não-confiável", escreveu o diretor-geral da Casa da Aids. Remédios baratos "são muito bem-vindos ao Brasil", mas é preciso "que cheguem com o compromisso de qualidade".
Mário Scheffer, ativista da luta contra a doença e membro do Conselho Nacional de Saúde, procurou a Folha no mesmo dia para dizer que parte do artigo era idêntica a texto que ele havia postado na Internet em 24 de março, para conhecimento de uma rede de profissionais da área (sairia depois em boletim especializado).
A queixa também foi apresentada a mim. A comparação não deixa dúvida. Um terço do que saiu sob a assinatura de Uip estava, com as mesmas palavras, no artigo de Scheffer.
A sobreposição atinge todo o miolo do texto do dia 14, porção que trata de CPI dos Medicamentos, Lei dos Genéricos e testes a que estes têm de ser submetidos (bioequivalência e biodisponibilidade).
No trecho final, Uip manifestou posição mais reservada que a de Scheffer, cujo artigo faz defesa clara dos genéricos.
A Folha não tinha como adivinhar. A questão é saber se agiu com transparência uma vez constatado o problema.
Não no primeiro momento. Domingo passado o "Painel do Leitor" trouxe carta de Scheffer. Abaixo, com o dobro do tamanho, saiu a resposta de Uip, fonte constante de reportagens da Folha sobre assuntos que vão da Aids à supergripe, passando pela saúde do governador (ele é médico de Covas).
Sem negar nem aceitar a acusação, Uip disse que, "em assuntos tão específicos como o tratamento de Aids, a coincidência de idéias e posições é comum". Acima das cartas foi colocada a palavra "polêmica".
Felizmente o episódio não terminou aí. Na quinta-feira, em artigo na mesma página 3, Scheffer teve a oportunidade de manifestar seu ponto de vista.
À ombudsman, Uip disse que os conceitos apresentados em seu texto "são partilhados por todos os que atuam na luta contra a Aids", e que não soube como citar, no espaço relativamente curto, as muitas fontes que usou. "Não houve má-fé."
Ainda assim, "polêmica" é expressão inadequada para descrever o caso, que envolveu cópia pura e simples sem identificação da fonte.
O jornal não tinha como evitar o incidente, mas é sua obrigação desfazer toda dúvida sobre o que se deu.


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