|
Próximo Texto | Índice
OMBUDSMAN
Ritmo de quelônio
BERNARDO AJZENBERG
Com intervalo de apenas dez
dias, duas edições da Folha
neste mês saíram sem a seção
"Erramos". A primeira foi no dia
11; a segunda, dia 19, terça-feira
passada. É algo inusitado, e
qualquer leitor poderia se perguntar: então não havia erros
para preencher aquele espaço?
Ledo engano.
A ausência da célebre rubrica,
nessas edições, tem um caráter
simbólico e é, ao mesmo tempo,
um sintoma. O jornal, que proclama em alto e bom som a sua
transparência, tem, na prática,
maltratado esse expediente que
lhe foi sempre tão caro, assim como aos seus leitores.
Das 58 sugestões de retificação
de conteúdo contidas nas críticas
diárias do ombudsman desde 12
de março, 30 (52%) foram publicadas; pelo menos 20 (34,5%)
-simples, óbvias e claras-
aguardam na fila, e o restante
(13,8%), nem tão evidentes, permanece em zona de indefinição.
Perguntas
Exemplos de sugestões indiscutíveis: 1) a dívida externa argentina é de US$ 128 bilhões e não
US$ 128 milhões (25/5); 2) diferentemente do que afirmou texto de 29/5, o Brasil tem 2.008 livrarias, conforme reportagem do
próprio jornal de 1º/3, e não 800.
Além do ombudsman, aponta
erros e sugere correções -principalmente de forma- o Programa de Qualidade (PQ).
Comunicado do dia 12 -do
qual "roubei", diga-se, o título
desta coluna-, de autoria de
seu coordenador, Rogério Ortega, lança as seguintes perguntas:
"...quando o erro é incontestável,
por que, muitas vezes, ele não é
corrigido rapidamente? Por que
certos "Erramos" demoram meses
para ser publicados? Por que se
age de maneira tão frontalmente contrária ao que determina o
manual?".
Segundo sua contabilidade, de
36 erros graves apontados em
abril, 27 (75%) foram reconhecidos; em maio, dos 47 indicados,
só 32 (68%) tiveram admissão
pública.
Exemplos evidentes, não admitidos: "O valor solicitado pela
empresa Park Air Eletronics na
licitação da Aeronáutica para
reaparelhar o Cindacta-1 foi US$
14,6 milhões, e não US$ 14,6, como publicado" (22/5); 2) "A cantora Britney Spears, por ser norte-americana, não pode ser "eleitora declarada" do premiê britânico Tony Blair, como afirmava
texto publicado em 6/6".
Compromisso
Gustavo Patú, secretário interino de Redação, afirma que a
direção do jornal está "insatisfeita com o ritmo lento de tramitação interna dos "Erramos", vai
conversar com os editores e pressionar para que isso mude". É o
mínimo a fazer.
Ao criar o "Erramos", o jornal
assumiu um compromisso com o
leitor. Como se dissesse: sabemos
ser impossível fazer todo dia um
jornal sem erros, mas esteja certo, leitor, de que buscamos esse
objetivo e de que, quando não o
atingimos, você fica sabendo,
com clareza, onde os erros estão.
Trata-se de uma questão de
credibilidade, principal patrimônio de qualquer órgão de comunicação sério. E é ele que a
Folha golpeia quando "engaveta", negligencia ou trata com
morosidade os seus equívocos.
Próximo Texto: No reino do vale-tudo Índice
Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
|