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Os "mais iguais"
A Folha dedicou na quinta-feira amplo e nobre espaço (chamada na Primeira Página e a
contracapa do caderno Dinheiro) à notícia da morte do empresário Caio de Alcantara Machado, pioneiro da organização de
feiras de negócios no país, ocorrida no dia anterior.
Já o registro do velório e daquela que seria a cerimônia de cremação do corpo saiu, sexta, numa pequenina nota, ao pé da
pág. B2 do mesmo caderno.
Essa equivocada desproporção
não mereceria comentário nesta
coluna não fosse o problema grave que a ela se vincula.
O fato é que, como haviam noticiado rádios e TVs na noite de
quinta, e como destacaram vários jornais na sexta, a cremação
do corpo do empresário foi suspensa, adiada, quando já estava
em curso de execução, por 15 dias
por decisão da Justiça.
Motivo: dois dos filhos fizeram
à polícia a acusação de que a
morte ocorrera por envenenamento, na casa da amante do
empresário. A polícia abriu inquérito. O corpo ficará no Instituto Médico Legal para exames.
Você leu alguma dessas informações na Folha de sexta? Não,
pois a nota em questão dava a
entender que tudo (a cremação)
transcorrera como o previsto:
"Após o velório, o corpo foi levado ao crematório do cemitério
da Vila Alpina, onde aconteceu
uma cerimônia em capela ecunêmica" -assim ela concluía.
Segundo a Secretaria de Redação, o jornal teve acesso à informação de que a cremação não
aconteceria porque dois filhos do
empresário suspeitavam de envenenamento, mas considerou
que se tratava de assunto familiar, de suspeita ainda não confirmada por exames.
A prudência é louvável, mas
não justifica, no mínimo, a
omissão, para o leitor, de uma
decisão pública da Justiça e de
uma iniciativa da Polícia, sobre
as quais não há dúvida.
A mesma cautela, aliás, não se
viu na edição de quinta, quando
o jornal publicou em alto de página foto e nome de um garçom
suspeito -estamos, também, no
terreno da suspeita- de atuar
no assassinato do empresário José Nelson Schincariol, segunda-feira à noite, em Itu (SP).
Parece ter prevalecido, aqui, a
idéia de que, se todos os cidadãos
são iguais perante a lei, para o
jornal alguns são "mais iguais"
do que os outros.
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