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A coisa errada
No domingo passado, Cotidiano publicou reportagem sobre
empresas no Rio de Janeiro que
pagam a traficantes de drogas
para garantir a segurança de
seus negócios, assunto trazido à
pauta pelo episódio ocorrido no
Carrefour de Jacarepaguá.
Dois casos foram relatados por
meio de ilustrações. No primeiro,
funcionários de uma empreiteira com obra em favela acertam
com o chefe local do tráfico o pagamento de uma quantia mensal em dinheiro.
Quando desaparece uma britadeira, a empresa reclama. No
mesmo dia, traficantes devolvem o equipamento e apresentam o responsável pelo furto.
No segundo caso, uma estação
de trem do subúrbio, ponto de
prostituição e venda de drogas,
transforma-se em local seguro
depois que a concessionária da
linha se entende com a associação de moradores.
Ao todo, oito desenhos e duas
constantes: todos os praticantes
de crimes são caracterizados como negros; todas as vítimas
(reais ou potenciais) de violência
são brancas.
São negros o chefe do tráfico na
favela, seu subalterno com arma
na cintura e o ladrão da britadeira, bem como a prostituta (de
bolsinha e tudo) e o vendedor de
drogas da estação.
São brancos os funcionários da
empreiteira e da concessionária,
o rapaz que consome a droga e
as mães e crianças que transitam
pela plataforma recuperada.
"A quem serve a veiculação de
tanto preconceito racial?", perguntou uma leitora. "Com certeza não à luta pela solução dos
problemas sociais de nosso país."
Não é a primeira vez que a Folha escorrega nessas "histórias
em quadrinhos". A reincidência
indica o quão arraigadas são as
imagens da discriminação.
O ilustrador por certo não percebeu. O encarregado de aprovar
ou rejeitar o desenho também
não. Exatamente porque ninguém percebeu o jornal tem de
redobrar esforços para se educar
e banir de suas páginas a difusão
de preconceito.
"Todos sabemos que a imagem
é carregada de informação", escreveu outro leitor. "Essas ilustrações perpetuam uma estética
em que o negro é apresentado
como o marginal, o fora-da-lei."
Inspirado pela nova campanha publicitária do jornal, ele
concluiu: "Não posso calar diante da coisa que está por trás da
coisa".
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