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OMBUDSMAN
Painel deformado
BERNARDO AJZENBERG
O Painel do Leitor, publicado
na página A3, deveria ser,
por definição, um espaço democrático para manifestação de
opiniões e queixas de leitores.
É certo que autoridades ou celebridades em geral são também
leitores do jornal e que, nesse
sentido, a presença de cartas
suas naquele espaço pode fazer
sentido. Ocorre, porém, uma deformação séria e preocupante.
Tem sido notória a ocupação
da maior parte da seção por cartas de pessoas que procuram, ali,
contestar reportagens do jornal
nas quais elas ou suas instituições foram envolvidas.
Neste mês, até sexta-feira, 51%
da centimetragem ocupada por
cartas no Painel são de autoridades, com as devidas respostas dos
jornalistas. No período de 10/5 a
23/5, essa taxa sobe para 58%.
Não por acaso, cresceu também o número de reclamações
dos leitores "comuns", que vêem
nisso, com razão, um desvirtuamento da seção.
Em tom de brincadeira, surgem em algumas mensagens ao
ombudsman sugestões de mudança para o seu nome: Painel
das Respostas, Painel dos Consertos, Painel das Reti-ratificações, Painel das Lamentações,
Painel das Queixas...
Não é um problema novo. Eu
mesmo já o abordei aqui, em 10/
3/2002, discutindo, por exemplo,
a idéia, que também não é nova,
de criar um espaço específico para as contestações das autoridades -idéia que a direção do jornal considera discriminatória,
pois criaria, em princípio, duas
classes de leitores.
O problema de fundo, na verdade, é outro: a dificuldade do
jornal de aplicar até o fim, com
regularidade, a sua própria norma de sempre ouvir o "outro lado", de fazer desse princípio uma
parte orgânica das reportagens
que publica.
Se isso de fato acontecesse como deveria, é fácil supor que a
procura das celebridades pelo
Painel -ao menos como espaço
de "outro lado"- cairia bastante e o jornal não se veria obrigado a reduzir tanto a chance de
seus leitores "comuns" se manifestarem ali democraticamente.
Na situação atual, querendo-se ou não, vigora objetivamente,
no Painel do Leitor, a existência
de duas categorias: leitores
"mais" e leitores "menos".
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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