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Jornalistas vendedores
A imagem de isenção e independência de um jornal e de seus
jornalistas implica contínua vigilância. Como tem traços de
subjetividade, criam-se, para
além dos princípios éticos gerais,
normas objetivas de conduta
que traduzem na prática o esforço pela sua manutenção.
Tais regras são uma espécie de
pacto público -jornal, jornalista, leitor- pela credibilidade e
pelo direito à informação, independentemente do que uns e outros pensem de si próprios em determinadas circunstâncias.
Um anúncio de página inteira
de um lançamento imobiliário
publicado quarta-feira com texto da colunista Erika Palomino
(veja ao lado) fere uma regra do
jornal e levanta uma questão
importante sobre o tema.
A regra, do verbete "Ética" do
"Manual da Redação", diz que:
"O jornalista da Folha não deve participar de anúncio comercial. Fica facultada, porém, a
possibilidade de atuação em
anúncios de campanhas de interesse público, com autorização
prévia da Direção de Redação".
Ao vetar que jornalistas atrelem sua imagem à venda ou divulgação de produtos, esse preceito obriga a que seja explícita,
sem margem para nenhuma dúvida, a sua independência em relação a interesses de terceiros
que poderiam, em tese, se imiscuir nas páginas do jornal.
Palomino afirma ao ombudsman que, de início, fez um texto
como free-lancer apenas para
um folheto do lançamento e que,
contatada depois sobre a sua inclusão em anúncio, não considerou que isso ofendesse a ética do
jornal ou a sua própria.
"Não se tratava de um testemunhal ou de uma recomendação à compra", afirma a colunista. "Apenas exponho as características do bairro e do empreendimento". Caso contrário, diz,
teria consultado a direção.
Para ela, o episódio não maculou sua imagem nem a do jornal.
A direção de Redação afirma
que não foi consultada previamente sobre o caso e considera
que houve um descumprimento
de norma clara do "Manual",
acrescentando que a colunista
foi repreendida pelo jornal.
A participação em anúncio,
com efeito, dá asas a especulações, abre campo para comprometer a confiança de leitores no
jornalista. E pouco importa, aí,
objetivamente, o julgamento que
ele faça sobre sua atitude.
O veto a essa participação é
um escudo em defesa de sua
imagem e, indiretamente, da
credibilidade do próprio jornal.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
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