São Paulo, domingo, 25 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Índice

Apostas frustradas

Errar previsões não é crime. Pode acontecer com qualquer jornal. Mas o engano, especialmente quando coletivo, diz alguma coisa sobre a maneira como foi apurada a notícia.
Na quarta-feira, quase todos os diários anotaram o palpite de que o governo, do qual se esperava um anúncio sobre a banda C da telefonia celular, optaria pelo padrão norte-americano para a frequência do celular que deverá competir com o serviço oferecido pelas bandas A e B.
Os textos iam da probabilidade (caso da Folha) à certeza (coluna no "Estado"). Alguns nada diziam sobre a origem da informação. Outros a atribuíam ao "mercado".
Nenhum considerava a sério a possibilidade de a Agência Nacional de Telecomunicações escolher o modelo europeu, o que acabou acontecendo.
Mais do que discutir as diferenças entre os dois padrões, importa aqui registrar que a decisão se deu em meio a grande disputa entre empresas dos EUA e da Europa interessadas em fornecer equipamentos para o setor.
Tudo indica que os jornais estavam mal informados sobre a situação dos pratos na balança. No dia seguinte, resolveram o problema dizendo que o desfecho "surpreendeu o mercado". Como "o mercado" é muita gente e ninguém, fica tudo por isso mesmo.
A aposta na vitória dos americanos na banda C não foi a única que virou pó entre as edições de quarta e quinta-feira. Houve também a previsão de triunfo do Palmeiras na final da Taça Libertadores.
Todos os jornais chegaram ao dia do jogo com o mesmo diagnóstico: depois do empate arrancado em território inimigo na semana anterior, a equipe brasileira tinha tudo para vencer o Boca Juniors no Morumbi e conquistar o bicampeonato das Américas.
O tom variava do otimismo às favas contadas, mas a direção da cobertura era uma só.
Mesmo a Folha, que torcedores palmeirenses vinham acusando de perseguir o time, amanheceu na quarta-feira sem deixar margem a dúvida. Manchete de Esporte: "Para calar bocas". Do adversário argentino, dos locais, da imprensa...
Como se sabe, não deu. Nos pênaltis, o Boca ficou com o título. Manchete do caderno no dia seguinte: "Palmeiras calado". A rigor, não só o Palmeiras.
Ninguém acompanha futebol como se fosse telefonia celular. O leitor espera encontrar emoção no relato das vitórias e derrotas de seu time. Mas não dá para descartar hipóteses apenas porque o torcedor não quer ouvir falar nelas.
Na banda C e na Libertadores, os jornais tentaram antecipar os vencedores. Faltou combinar com o adversário.

Por falha no sistema, foram perdidas as mensagens enviadas ao endereço eletrônico da ombudsman entre a noite de sexta-feira, 17 de junho, e a manhã de segunda, 19. Se você me mandou e-mail nesse período, peço o favor de encaminhá-lo de novo, para que eu possa responder.


Texto Anterior: Ombudsman: Histórias da carochinha
Índice


Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Renata Lo Prete/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.