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Apostas frustradas
Errar previsões não é crime.
Pode acontecer com qualquer
jornal. Mas o engano, especialmente quando coletivo, diz alguma coisa sobre a maneira como
foi apurada a notícia.
Na quarta-feira, quase todos
os diários anotaram o palpite de
que o governo, do qual se esperava um anúncio sobre a banda C
da telefonia celular, optaria pelo
padrão norte-americano para a
frequência do celular que deverá
competir com o serviço oferecido
pelas bandas A e B.
Os textos iam da probabilidade (caso da Folha) à certeza (coluna no "Estado"). Alguns nada
diziam sobre a origem da informação. Outros a atribuíam ao
"mercado".
Nenhum considerava a sério a
possibilidade de a Agência Nacional de Telecomunicações escolher o modelo europeu, o que
acabou acontecendo.
Mais do que discutir as diferenças entre os dois padrões, importa aqui registrar que a decisão se deu em meio a grande disputa entre empresas dos EUA e
da Europa interessadas em fornecer equipamentos para o setor.
Tudo indica que os jornais estavam mal informados sobre a
situação dos pratos na balança.
No dia seguinte, resolveram o
problema dizendo que o desfecho "surpreendeu o mercado".
Como "o mercado" é muita gente e ninguém, fica tudo por isso
mesmo.
A aposta na vitória dos americanos na banda C não foi a única que virou pó entre as edições
de quarta e quinta-feira. Houve
também a previsão de triunfo do
Palmeiras na final da Taça Libertadores.
Todos os jornais chegaram ao
dia do jogo com o mesmo diagnóstico: depois do empate arrancado em território inimigo na semana anterior, a equipe brasileira tinha tudo para vencer o
Boca Juniors no Morumbi e conquistar o bicampeonato das
Américas.
O tom variava do otimismo às
favas contadas, mas a direção da
cobertura era uma só.
Mesmo a Folha, que torcedores
palmeirenses vinham acusando
de perseguir o time, amanheceu
na quarta-feira sem deixar margem a dúvida. Manchete de Esporte: "Para calar bocas". Do
adversário argentino, dos locais,
da imprensa...
Como se sabe, não deu. Nos pênaltis, o Boca ficou com o título.
Manchete do caderno no dia seguinte: "Palmeiras calado". A rigor, não só o Palmeiras.
Ninguém acompanha futebol
como se fosse telefonia celular. O
leitor espera encontrar emoção
no relato das vitórias e derrotas
de seu time. Mas não dá para
descartar hipóteses apenas porque o torcedor não quer ouvir falar nelas.
Na banda C e na Libertadores,
os jornais tentaram antecipar os
vencedores. Faltou combinar
com o adversário.
Por falha no sistema, foram
perdidas as mensagens enviadas
ao endereço eletrônico da ombudsman entre a noite de sexta-feira, 17 de junho, e a manhã de
segunda, 19. Se você me mandou
e-mail nesse período, peço o favor de encaminhá-lo de novo,
para que eu possa responder.
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Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
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