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OMBUDSMAN
Batendo cabeças
BERNARDO AJZENBERG
Se o enredo da novela
da indicação do vice na chapa
do presidenciável José Serra já
era complicado, a Folha conseguiu se enrolar ainda mais ao
noticiar o seu desfecho, a saber,
como Rita Camata (PMDB-ES)
foi escolhida para a vaga.
Entre quarta-feira e sexta-feira, os leitores foram presenteados com versões nitidamente
contraditórias.
A coluna Painel sustentou que
os marqueteiros do pré-candidato do PSDB tinham clara posição a favor da deputada peemedebista, em detrimento do
senador Pedro Simon (PMDB-RS). Já as reportagens mostravam um Nizan Guanaes (o
principal marqueteiro) "em cima do muro".
Apontei a existência dessa
confusão em críticas internas
desde a quarta-feira. A crítica
de quinta, após registrar que
"mais uma vez batem cabeça o
Painel e textos de reportagem",
indagava: "em quem o leitor deve acreditar?"
Apesar disso, a incongruência
prosseguiu na sexta-feira,
quando o Painel abandonou a
"polêmica" e uma reportagem
três páginas adiante trouxe
uma terceira versão: os marqueteiros, na verdade, tinham "fechado" preferência por Simon.
Como se não bastasse, na
mesma edição a coluna Janio de
Freitas, neste caso dando a fonte (Michel Temer, presidente do
PMDB), adotava linha oposta:
Rita foi escolha de Guanaes.
Até o fechamento desta coluna, ontem, a solução estava no
ar-e o leitor, na mão.
Independentemente dos aspectos políticos envolvidos e de
qual "linha" está correta, o fato
é que a Folha não é -ou não
deveria ser- uma federação de
repórteres, cada qual atirando
para um lado, competindo publicamente, nas páginas do jornal, com versões excludentes.
Não se fala aqui de opiniões ou
pluralismo, mas de fatos.
Qualquer leitor teria o direito
de supor que alguém errou na
apuração da notícia, seja por
não atualizá-la entre um dia e o
outro, seja por não cumprir,
eventualmente, uma das regras
básicas da investigação jornalística: o cruzamento de informações entre diferentes fontes.
Numa hipótese mais otimista,
teria ocorrido "apenas" uma falha de comunicação interna.
A persistência da desarmonia,
porém, leva a uma dúvida ainda mais problemática: não refletiria, esse desencontro, uma
vulnerabilidade do jornal a influências de interesses desse ou
daquele lado?
Qualquer que seja a explicação -e ela pode ser o somatório
disso tudo-, o leitor, neste caso, só teve a perder.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
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ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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