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Um alerta
Na semana que passou, os
marqueteiros do PT puderam
respirar aliviados, ao menos
quanto à Folha. Fatos bastante
incômodos surgiram envolvendo
o partido, mas o jornal, em muitos casos, tratou-os com bem menos relevância do que mereciam.
Na sexta-feira 18, a Folha levou um furo do "Estado de
S.Paulo", que noticiou o deslocamento para publicidade de dinheiro que deveria pagar programas sociais da prefeitura
paulistana.
Ao recuperar o tema sábado, o
jornal adicionou uma revelação:
teria havido desvio para publicidade também de verba da saúde, desde 2001. Apesar de estarmos em ano eleitoral, numa
campanha em que a publicidade
ocupa papel, como se sabe, primordial, optou-se, no entanto,
por não dar a informação na capa, que é a vitrine do jornal.
Notícia divulgada por Elio
Gaspari no domingo sobre uma
licitação problemática em Ribeirão Preto (administrada pelo
coordenador do programa de
governo de Lula) também ficou
só em página interna.
Na quarta, só uma pequenina
matéria saiu sobre tema que foi
manchete da terça no "Correio
Braziliense": acusações de desvio
de dinheiro de entidade sindical
do DF, em 98, para campanhas
eleitorais, inclusive do PT.
Na quinta, o secretário João
Sayad (Finanças) admitiu "erro
formal" da prefeitura no lançamento de gastos com publicidade; o assunto, grave, tampouco
ganhou espaço na capa.
Veio a sexta, e jornais concorrentes publicaram uma frase curiosa de Marta Suplicy: "A parte
jurídica é o de menos", disse a
prefeita, expondo uma formulação reveladora, vinda da autoridade que comanda a principal
administração do PT, vitrine
mais exposta do partido cujo
pré-candidato encabeça todas as
pesquisas de intenção de voto.
A secretária de Redação Paula
Cesarino Costa afirma que não
houve chamada sábado porque,
em que pese o "mérito" da reportagem, "segundo a apuração da
Folha até aquele momento, não
havia consenso entre especialistas de que o procedimento da
prefeitura era irregular"; além
disso, "o valor em questão não
chegava a ser expressivo".
No caso do "erro formal", diz a
jornalista, "optamos por manter
a mesma postura em relação ao
tema". Ela argumenta que o que
Sayad admitiu foi um erro de caráter "formal" e que o secretário
defendeu o destino dado à verba.
Ademais, "até aquele momento,
não dispúnhamos de elementos
para dimensionar a real possibilidade de haver um processo de
improbidade administrativa
contra a prefeitura". A opção foi
priorizar outras chamadas.
Sobre a frase de Marta, só não
saiu por "descuido da edição".
Seria leviano, aqui, dizer que o
jornal resolveu "dar moleza" ao
PT na campanha eleitoral em
pleno curso. Diante da importância dos fatos surgidos na semana, porém, não parece equivocado considerar que ele, objetivamente, acabou ficando perto
disso. Vale como alerta.
A Folha precisa definir melhor
o que quer no noticiário eleitoral. Entre o marketing e a vida
concreta, entre questões de programa ou propostas e a retórica
pura, onde está o equilíbrio? Como e o que priorizar?
Sobre o PT, tema desta coluna:
diferentemente de campanhas
anteriores, o partido controla cidades e Estados de imenso peso
político e econômico, com as possibilidades positivas e os riscos
que isso implica. É esse o PT real,
não o de Duda Mendonça.
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