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Pratos quentes
O assunto que mais gerou
mensagens ao ombudsman, na
semana, foi o episódio do desentendimento ocorrido na sexta 19,
em almoço na Folha, entre o
candidato do PT, Luiz Inácio
Lula da Silva, e o diretor de Redação, Otavio Frias Filho.
Segundo relata o jornal de
quinta-feira, Lula resolveu deixar o recinto onde ocorria o
evento por se sentir "irritado"
diante de duas perguntas feitas
"com veemência" por Frias Filho
(uma sobre o preparo intelectual
do candidato, outra sobre a
aliança com o PL).
O incidente fora divulgado no
início da semana por três colunas políticas (de penetração relativamente restrita).
Na quarta-feira, "O Globo"
publicou reportagem sobre o caso, inclusive com declarações do
diretor de Redação.
Até a edição de quinta, a Folha
limitara-se a registrar a visita de
Lula e o almoço, como de praxe,
no Painel (pág. A4) de sábado.
A existência desses encontros,
hábito em jornais de grande porte no mundo todo, é legítima.
Faz parte do relacionamento
entre a empresa que edita o veículo e as autoridades (políticas,
intelectuais, econômicas, culturais, científicas etc.).
Resulta, em última instância,
num produto jornalístico mais
bem informado para o leitor.
Ao mesmo tempo, não deve
surpreender que haja, às vezes,
rispidez entre jornalistas e autoridades, anfitriões e convidados,
embora seja obviamente lamentável quando isso "extrapola".
Mas as consequências práticas
disso só seriam nefastas, para o
leitor, se os sopapos verbais se
traduzissem, depois, em alteração na linha editorial do veículo
de comunicação.
Divulgar ou não
Houve leitores indignados com
a postura do diretor de Redação,
outros com a atitude de Lula,
outros com o fato de a Folha não
ter divulgado de imediato o entrevero e outros, por fim, lamentando que se tenha feito a revelação, já que se tratou de uma rusga em evento privado cujo conteúdo o jornal se compromete a
não divulgar.
Em termos estritamente jornalísticos, porém, o mais relevante,
aqui, é discutir se e quando a Folha deveria (ou não) ter dado a
seus leitores conhecimento do
ocorrido.
Como escrevi em crítica interna na quarta-feira, penso que
deve ser preservado o chamado
"off" desses encontros, compromisso assumido pelo jornal com
os convidados.
É só desse sigilo inicial que podem surgir, eventualmente, em
tais almoços, pautas importantes
de interesse do leitor a serem investigadas.
Pareceu-me certa, por isso, a
Folha, ao não tornar público o
bate-boca privado.
Diante do "vazamento" da informação, porém, mesmo que
por colunas políticas de penetração restrita, tornava-se obrigatório dar satisfação a seus leitores. E isso deveria ter sido feito,
penso, já na quarta-feira, sem esperar pela divulgação no "Globo".
Apesar do atraso, o texto que
apresenta na quinta-feira o
ocorrido (precedido, como ele
próprio explicita, de convite à
assessoria de Lula para que também ali se pronunciasse) foi um
sinal de transparência.
Visto não ter ocorrido depois,
ao menos até o momento, contestação por parte do PT ao ali
descrito, presume-se que revela,
sinteticamente, o que de fato
aconteceu.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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