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OMBUDSMAN
Ano exuberante
BERNARDO AJZENBERG
Os acontecimentos fizeram de 2003 um ano exuberante no que toca a questões fundamentais para o jornalismo:
1) A independência da mídia
se colocou de modo diferente sob
um novo governo. Após uma
"lua-de-mel" entre a maior parte dos veículos e o Planalto, a cena mudou. Houve cobranças, dificuldades no contato, excessos.
Lula, dias atrás, proferiu a (polêmica) frase do ano nessa matéria: "Eu aprendi uma coisa: notícia é aquilo que nós não queremos que seja publicado. O resto é
publicidade".
A mídia dos EUA viveu um debate semelhante, com a invasão
e ocupação do Iraque. Cabe patriotismo no noticiário de uma
imprensa crítica? Como a mídia
e o Pentágono usaram, cada
qual a seu modo, os repórteres
"encaixados" nas tropas?
2) Casos históricos abalaram a
credibilidade de três das maiores
instituições de mídia do planeta.
O primeiro foi o de Jayson
Blair, o repórter demitido do
"New York Times", em maio,
após descoberta de fraudes em
suas reportagens. O jornal expôs
os erros. Fez mea culpa. Uma investigação interna resultou em
demissões na cúpula e em mudanças estruturais, dentre elas a
adoção de um ombudsman.
Ainda no primeiro semestre,
explodiu a crise na BBC, da Grã-Bretanha, com o suicídio de um
assessor científico do governo,
fonte secreta de um jornalista
que teve sua identidade revelada
após esse mesmo jornalista "inflar" suas afirmações sobre o potencial bélico de Bagdá.
No mesmo período, o principal
diário francês, "Le Monde", sofria acusações, em livros, de condução editorial deturpada por
vínculos políticos e econômicos.
3) No Brasil, as entidades das
empresas de comunicação assumiram a existência de uma crise
empresarial e pediram ajuda ao
BNDES. Em que pese a falta de
transparência com que o tema
foi e continua a ser tratado na
própria mídia, o gesto expressa,
em si, a gravidade da situação.
4) Em vários países, em especial EUA e Itália, a discussão, no
terreno empresarial, versou sobre propostas de leis que ampliam a chance de concentração
da propriedade dos meios de comunicação, com o que isso acarreta de ameaça à pluralidade e à
diversidade.
5) Dois episódios, de proporções limitadas mas alto valor
simbólico, chamaram a atenção
para os riscos da crescente "fusão" entre jornalismo e entretenimento. Foram o "sarro" de Silvio Santos, que numa revista
anunciou estar próximo da morte, e a "entrevista" do Gugu com
supostos membros do PCC.
6) Ao longo do ano, a Folha
protagonizou três casos relativos
ao direito da sociedade de ter
acesso a informações públicas.
Em maio, o tema foram os critérios da prefeitura de São Paulo
para fixar valores da taxa do lixo. Em julho, contratos sem licitação do governo do RJ. Em novembro, a verba indenizatória
dos deputados federais. Em todos, ante a resistência das autoridades, o jornal fez pedido formal de dados, com base na Constituição. Iniciativa ainda incomum, que abre nova perspectiva
ao debate sobre mídia, Poder e
transparência.
O ano de 2003 ainda gerou,
concretamente, polêmicas sobre
ética jornalística, assassinato de
repórteres, mistura de jornalismo com publicidade...
Na certa faltaram eventos relevantes nesse resumo. Mas, se fosse "apenas" isso, não bastaria
para um ano só?
Entro em férias. A coluna volta
em 8 de fevereiro. Nesse período,
a secretária Rosângela Pimentel,
do departamento do ombudsman, receberá e encaminhará as
mensagens dos leitores. Quando
necessário, casos serão tratados
no meu retorno. Até lá.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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