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Vendendo o peixe (réplica)
Reproduzo a seguir, com autorização do autor, e-mail que me
foi enviado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho
Editorial da Folha, a partir do
texto "Vendendo o peixe", de domingo passado, no qual abordei
criticamente o uso, por parte de
colunistas, de seu espaço regular
no jornal para divulgar projetos,
ações ou empreendimentos que
realizam paralelamente à sua
atividade na Folha:
"Sem o interesse de polemizar,
nem de ver esta carta publicada,
mas apenas o de colaborar com
a instigante e fértil reflexão de
sua coluna, de domingo passado, gostaria, uma vez que fui citado sem ser ouvido, de expor-lhe algumas considerações:
A Cidade Escola Aprendiz, da
qual fui fundador, é um laboratório de pesquisas, sem fins lucrativos, em que dezenas de educadores testam programas para
melhorar, pelo fortalecimento
comunitário, a educação pública. Alguns desses programas foram reconhecidos como modelos
mundiais de educação pela
Unesco.
Um dos projetos que o Aprendiz ajudou a construir ganhou
uma das mais importantes condecorações internacionais destinada a apontar inovações comunitárias, entregue pelo Social
Accountability Internacional,
em que participam candidatos
de todo o mundo.
Neste mês de dezembro, a Cidade Escola foi homenageada
como referência nacional no
Prêmio Itaú-Unicef, mais importante concurso nacional de programas complementares à educação.
O Aprendiz foi indicado pelo
Banco Mundial como uma referência brasileira de inclusão social e consta em estudo de caso
feito pelo PNDU, órgão voltado
ao desenvolvimento das Nações
Unidas.
Sei que, no seu comentário, você não quis entrar em méritos.
Sinto-me, porém, obrigado a listar alguns dos prêmios para lhe
mostrar uma visão alternativa
às suas considerações.
Na sua coluna, você considera
inadequado que eu tenha citado
o Aprendiz em algum dos meus
artigos. A Cidade Escola Aprendiz é um laboratório de experimentações, sem qualquer outro
propósito do que o de disseminar
tecnologia social. Por que, então,
seria inadequado compartilhar,
desde que, óbvio, criteriosa e
ocasionalmente, eventuais achados desses educadores?
Afinal, tenho procurado relatar em meus artigos experiências, dentro e fora do Brasil, de
fortalecimento comunitário.
Também escrevi sobre projetos
que conheci na Universidade de
Columbia, em Nova York, onde
era acadêmico-visitante e depois
do board do programa de educação em direitos humanos.
Em Nova York, fui consultor
(não remunerado, assim como
no Aprendiz) do Unicef, o que
me fez tomar contato com excepcionais programas na África e
Ásia. Deveria me omitir de falar
dessas descobertas? Minha
maior satisfação e sensação de
missão jornalística cumprida é
ver que muitas dessas informações influenciaram políticas públicas.
A legitimidade da minha coluna ao abordar questões sociais se
deve ao fato de que, além de ver,
ouvir, ler, participo de experimentações.
Mas admito, como você aponta, que sempre haverá uma linha
fina entre promoção e compartilhamento de conhecimento, o
que é parte do crônico debate
jornalístico sobre os limites da
objetividade.
Também admito que sempre
haverá a necessidade de atenção
especial para quem, como eu, vê
a informação, na ótica do jornalismo comunitário, como elemento de educação e se envolve
em atividades sociais, colocando
a mão na massa, o que encaro
como um dever dos cidadãos.
A diversidade e a riqueza dos
colunistas não estão apenas na
diversidade de opiniões, acadêmicas, mas em suas vivências
criativas, feitas de erros e acertos
-e minha vivência é a mistura
de educação com comunicação,
na busca de uma linguagem diferente.
Se tivesse de fazer promoção,
bastaria apenas ter divulgado,
como estou fazendo agora forçado pelas circunstâncias, os numerosos prêmios que o Aprendiz
tem obtido por seus programas.
Poderia até ter sugerido que a
Folha, como faz com outros prêmios de jornalistas da casa ou
que tenham relevância pública,
os divulgassem.
Mas isso não aconteceu porque
o importante é disseminar conhecimento num país, metido
nesse buraco de violência, desesperadamente carente da disseminação de tecnologia social. Esse é o peixe que tento vender para
ajudar a ensinar a pescar."
Texto Anterior: Ano exuberante Índice
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