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OMBUDSMAN
Ares de Gênova
BERNARDO AJZENBERG
Dois tipos de objeção chegaram ao ombudsman sobre a
cobertura da reunião do Grupo
dos 8 em Gênova no final da semana passada.
Um grupo de leitores queixou-se das fotos que estampavam na
capa da Folha do dia 21 a morte
do jovem Carlo Giuliani. O assinante Fernando Andrade, por
exemplo, escreveu o seguinte:
"Desautorizo a Folha a entrar
em minha residência novamente
com fotos de extremo mau gosto
como as fotos em destaque de primeira página de hoje (assassinato de um manifestante contra a
globalização). O mau gosto atingiu o extremo na foto onde a vítima agoniza "esguichando" sangue. Onde o jornal quer chegar?
Por favor, não repitam isto!".
Menciono esse e-mail não só
por sintetizar os demais mas
também por mexer com a relação
entre o jornal e seu leitor mais fiel
e majoritário: o assinante.
Não se deve discutir em abstrato o uso ou não de uma foto chocante, e sim vinculá-lo ao veículo,
suas tradições, seu público.
O assinante paga para ter o jornal em casa por conhecê-lo. Não
antevê seu conteúdo, mas sabe
entre que margens navega.
Uma foto pode estarrecer certo
leitor e ser banal para outro. O
difícil, para o editor, ao deparar
com imagens "pesadas", é justamente definir limites, com base
no perfil médio de seu leitorado.
Nesse caso, com a foto do "close" do rapaz de cabeça sangrando no asfalto, a Folha exagerou.
Não foi um problema isolado,
claro. Os leitores do "Jornal do
Brasil", do Rio, por exemplo, tiveram mais motivos do que os da
Folha para se sentir chocados.
Aquele diário praticamente
transformou num minipôster, no
alto de sua capa, a cabeça "esguichando sangue" de Giuliani.
"O Globo" e "O Estado de
S.Paulo" não deram a foto em
suas capas. O "Libération", tablóide francês, ocupou a capa
com o corpo, dando ênfase menor
à cabeça. "The New York Times"
deu uma sequência de fotos, e só
uma trazia o morto, à distância,
como o argentino "La Nacion".
Cenas chocantes, sempre haverá. O desafio continuará a ser detectar o ponto em que uma foto
deixa de ser registro forte e contundente para se transformar,
dependendo de como é editada,
em ícone apelativo ou sensacionalista.
ONGs e fóruns
A segunda queixa se refere a
um aspecto de fundo: até que
ponto os jornais refletem a realidade do que há por trás das manifestações "antiglobalização"?
Têm sido eficazes na cobertura
de dia-a-dia -não apenas nos
momentos especiais- das centenas de organizações independentes, não-governamentais, que se
expandem internacionalmente?
Comparando-se a cobertura de
Gênova com a de Seattle (EUA),
em 99, durante encontro da Organização Mundial do Comércio, é inegável que houve avanço.
Conhecem-se melhor alguns
grupos ou entidades impulsionadores dessas mobilizações.
Além disso, agora, houve mais
artigos de analistas procurando
captar o fenômeno e, até, explorar suas divisões internas.
Mas quem acompanha a imprensa, inclusive a Folha, sabe
não haver cobertura sistemática
dessa multidão crescente de associações, daí a surpresa diante da
força de certos eventos.
Pergunto, a título de exemplo: o
que deliberaram os encontros paralelos ao dos chefes de Estado do
G-8, centralizados pelo chamado
Fórum Social de Gênova?
Os jornais, inclusive a Folha,
mencionaram pontos que seriam
discutidos, e só. Ao final, prevaleceram no noticiário o sangue de
Giuliani e as "grandes decisões"
do G-8 formal. São fatos da
maior importância -é evidente-, mas não os únicos relevantes.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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